Novo conflito em MT: ‘Tragédia anunciada’, diz CPT sobre confronto que matou uma pessoa e deixou sete feridos
O risco de confronto entre seguranças e famílias de trabalhadores rurais na Fazenda Agropecuária Bauru (Magali), em Colniza, a 1.065 km de Cuiabá, já era alertado por instituições e entidades em Mato Grosso. O conflito, motivado por disputa de terra, deixou um trabalhador morto e outras sete pessoas feridas na manhã deste sábado (5).
A fazenda pertence ao ex-governador Silval Barbosa, que comprou a propriedade em sociedade com o ex-deputado José Geraldo Riva. (veja o outro lado ao final da matéria). Uma força-tarefa composta por agentes da segurança pública foi enviada até a região.
A propriedade tem histórico de invasões. Em outubro de 2018 cerca de 200 pessoas armadas invadiram a propriedade.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Mato Grosso disse, em nota, que o trabalhador rural morto foi identificado como Eliseu.
Foi a primeira morte registrada pela CPT em 2019 por conflitos agrários. A pastoral afirma que ataque deixou outros oito feridos, sendo três em estado grave. A Polícia Civil diz que são sete homens feridos.
De acordo com testemunhas do conflito, o confronto aconteceu no momento em que algumas pessoas que ocupam a área da fazenda pegavam água na beira do Rio Traíra, que é próximo ao acampamento onde estão as famílias.
Ainda conforme a comissão, algumas dessas famílias são posseiras, outras compraram o direito de estar na terra e já moram em lotes há algum tempo, produzindo e criando animais.
“São pessoas que apostaram no sonho de construir uma vida com o suor do trabalho. Não podemos deixar que mais um massacre aconteça, que mais uma violência aconteça a estas pessoas que já nasceram vulneráveis e que, por sua condição de pobreza, já nasceram em estado de exceção”, finalizou a CPT.
A Delegacia de Polícia de Colniza solicitou reforço da Gerência de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil, Ciopaer, da Secretaria de Segurança Pública, e peritos da Politec de Cuiabá para realizar os trabalhos de local de crime e necropsia.
A Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) apontou Colniza como a cidade mais violenta do Brasil. A cidade chegou a registrar 165,3 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes – o mais alto índice de homicídios do Brasil.
As mortes ocorriam por conflitos gerados por questões agrárias, exploração de madeira e minérios.
Empresa de segurança
A Empresa Unifort, que faz a segurança da área, enviou nota à imprensa na tarde deste sábado. Eles lamentaram o episódio e afirmaram que um grupo de seguranças sofreu uma emboscada e foi surpreendido com disparos de arma de fogo, que atingiram o carro empregado pela equipe para realização de rondas.
A empresa afirmou que os supostos invasores também estavam em poder de foices e facões.
“Registramos várias ameaças e invasões, incluindo disparos de armas de fogo durante as madrugadas em uma explícita ameaça aos funcionários da fazenda”, disse a empresa na nota.
A empresa também afirma que comunicou o risco e as ocorrências para as forças de segurança de Mato Grosso, mas não teve resposta.
Riva
Em nota enviada à imprensa no começo da tarde, Riva lamentou o ocorrido e se declarou preocupado com a vida de todos os envolvidos.
Disse que todas as invasões foram devidamente comunicadas à Justiça de Mato Grosso. Disse também que os invasores insistiram em desrespeitar as ordens judiciais, inclusive de afastamento dos limites da propriedade.
Afirmou que, em razão das inúmeras invasões, contratou uma empresa de segurança privada, devidamente registrada e previamente informada as autoridades, com a finalidade de proteger o local das inúmeras invasões.
Leia o texto na íntegra:
A empresa Floresta Viva, em decorrência dos últimos fatos ocorridos em sua propriedade rural situada em Colniza-MT, esclarece:
1) A Fazenda Bauru desde sua aquisição sofre inúmeras invasões ilegais, onde a propriedade é destruída e crimes ambientais são realizados. Todas as invasões foram devidamente comunicadas ao Poder Judiciário;
2) Os invasores insistem em desrespeitar as ordens judiciais, inclusive de afastamento dos limites da propriedade e, cometem toda sorte de crimes, como ameaça, crimes ambientais e etc. Tais ocorrências sempre foram devidamente comunicadas em tempo e modo as autoridades competentes;
3) Em razão das inúmeras invasões, a empresa contratou uma empresa de segurança privada, devidamente registrada e previamente informada as autoridades, com a finalidade de proteger o local das inúmeras invasões;
4) Infelizmente no dia de hoje, empregados da empresa habilitada de segurança terceirizada privada, situada na Fazenda Bauru, sofreram uma emboscada realizada por terceiros, fortemente armados, que atentaram contra a vida dos seguranças e empregados da fazenda.
5) Lamentavelmente pessoas que se auto denominam trabalhadores rurais, mas que fazem parte de um grupo armado, novamente desrespeitando ordem judicial de reintegração de posse e de afastamento dos limites da propriedade, não somente atentaram contra a vida de pessoas como pretenderam com o uso da força, invadir a propriedade rural produtiva, para cometer crimes de toda ordem.
6)A empresa de segurança limitou-se a defender no intuito de garantir a integridade física dos seus empregados.
7) A empresa Floresta Viva, imediatamente após o ocorrido, comunicou os fatos as autoridades competentes.
8) Igualmente, como em todas as ocasiões, a empresa Floresta Viva levará a situação ao Poder Judiciário para garantir a ordem e o cumprimento da lei.
9) Por fim, a empresa lamenta o ocorrido, externando sua preocupação com a vida e integralidade física de todos os envolvidos.”
Histórico
De acordo com o MPE, a Fazenda Agropecuária Bauru (Magali) vem sendo alvo de invasões desde o ano 2000 e que, após a reintegração de posse em 2017, as ameaças se intensificaram até culminar com a invasão do grupo em 2018.
O órgão cita, com base no relato do gerente da fazenda, que ainda não houve confronto armado, porque a segurança privada recuou para evitar o conflito, já que estão em número menor.
O órgão já alertava que poderia ocorrer novamente uma tragédia na região, assim como a registrada em abril de 2017, quando 9 trabalhadores rurais foram brutalmente assassinados no Distrito de Taquaruçu do Norte.
(Fonte: G1)