Padre de MT pede perdão após dizer que menina de 10 anos vítima de estupro ‘gostava de dar’
O padre Ramiro José Perotto, da Paróquia São Paulo Apóstolo, em Carlinda (756 km de Cuiabá), pediu perdão após dizer que a menina de 10 anos, que realizou um aborto legal após ser estuprada no Espírito Santo, “gosta de dar”.
Os comentários foram feitos nessa quarta-feira (19), em seu perfil no Facebook, após o pároco compartilhar uma publicação do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Nos prints dos comentários respondendo internautas revoltados, o pároco dizia que a menina “compactuava” com os abusos sexuais por nunca ter denunciado.
Em carta aberta, Ramiro assumiu a autoria das publicações e pediu desculpas.
“Assumo a responsabilidade de ter proferido palavras desagradáveis, e justifico que compartilho da defesa da vida, nunca condenar e tirar julgamentos. […] Àqueles que se sentiram ofendidos, só resta meu pedido de perdão”.
Ele disse ainda que não teve a intenção de se manifestar com “palavras de baixo calão”. Segundo o religioso, isso não representa sua fé nas pessoas.
“Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana”, afirmou em outro trecho da carta.
O caso
Com a publicação condenando o aborto, que foi autorizado pela Justiça, o padre passou a receber inúmeros comentários contra o posicionamento.
“Obrigar uma mulher a seguir com uma gravidez indesejada é errado. Obrigar uma mulher vítima de estupro a seguir com gravidez é nojento. Obrigar uma criança vítima de estupro a seguir com gravidez é repugnante”, escreveu uma internauta.
Ramiro, então, respondeu o comentário. Para ele, a vítima aceitou os abusos sexuais e até ri da situação.
“Duvido uma menina ser abusada com 6 anos, por 4 anos, e não falar. Ela compactuou com tudo e agora é inocente kkk (sic). Gosta de dar então assuma as consequências”, afirmou o padre.
Em outro comentário no Facebook, o pároco reforça o posicionamento enfatizando que a menina estava gostando.
“Você acredita que a menina é inocente? Acredita em papai Noel também. 6 anos, por 4 anos, e não disse nada. Claro que estava gostando. Por favor, kkkkk gosta de dar, então assuma as consequências”, escreveu.
Apesar disso, o líder religioso não foi afastado de suas funções e a Diocese de Sinop, que coordena a paróquia de Carlinda, não se manifestou sobre o episódio.
Leia a carta na íntegra:
Caríssimos. Eu, Pe. Ramiro José Perotto, pároco na Paróquia São Paulo Apóstolo, Carlinda, MT, venho por meio desta dizer-vos que assumo toda a responsabilidade de três postagens em meu Facebook sobre a defesa da vida, no caso do aborto ocorrido no último dia 17.
As postagens foram excluídas por mim mesmo quando percebi inúmeros comentários que atacaram a minha defesa. Assumo a responsabilidade de ter proferido palavras desagradáveis, e justifico que compartilho da defesa da vida, nunca condenar e tirar julgamentos.
Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana.
Àqueles que se sentiram ofendidos, só resta meu pedido de perdão. Excluí meu facebook por não querer mais ofender e ser ofendido. Precisamos ser fraterno. Sempre peguei isso.
As vezes que não fui, que Deus me perdoe. Lutemos pela vida, ela é dom de Deus. “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” Jo. 10,10
Pe. Ramiro José Perotto/Pároco de Carlinda – 20 de agosto de 2020