Paulo não superou paralisia, mas se realiza em projeto que mãe criou há 58 anos
Na Avenida Afonso Pena um prédio azul e branco antigo indica a ACBR (Associação Campo-grandense Beneficente de Reabilitação). A arquitetura simples pouco chama atenção de quem vai e vem por ali, mas seu interior revela uma história de dedicação que completa 57 anos. O lugar foi idealizado pela força de famílias que tiveram filhos atingidos pela epidemia de poliomielite na década de 60, especialmente, o campo-grandense Paulo Márcio Machado Metello que teve uma infância difícil, narrada pelo entra e sai de hospitais, ao ser diagnosticado com a também chamada paralisia infantil. Sua mãe, dona Yvone Soares Machado Metello, foi quem teve a ideia de criar a associação e movimentar Campo Grande pela qualidade de vida e assistência às crianças.
Hoje, aos 60 anos, Paulo é presidente da instituição e defende diariamente o direito das pessoas com deficiência. Mas nos primeiros minutos de conversa, o que chama atenção no homem bem humorado e simpático à mesa do trabalho é como buscou viver de um jeito saudável, deixando para trás os questionamentos e a revolta por uma deficiência que até o momento não superou. “Eu falo que ninguém supera a paralisia infantil, eu sou uma pessoa com deficiência até hoje, uso muletas, não ando sem elas, então não é uma superação, mas uma luta diária pela qualidade de vida”.
Sem esconder as dificuldades, as palavras surgem acompanhadas de um sorriso e um brilho no olhar ao ver na mesa fotos antigas, que ele selecionou para mostrar à reportagem e contar um pouco do projeto que o faz feliz todos os dias. “Hoje, passei da fase de reclamar e de me revoltar. Tenho minha família, minha profissão e o que me traz felicidade é saber que eu posso ajudar outras pessoas, principalmente com um projeto da minha mãe, que nasceu para fazer o bem”.
A associação nasceu na principal avenida de Campo Grande quando o asfalto nem existia em um terreno doado pela Prefeitura, na gestão de Plínio Barbosa Martins. O prédio já perdeu as características antigas depois de um grande reforma para um novo pavimento. Hoje atende pacientes com ou sem deficiência em busca de reabilitação, especialmente, com fisioterapias.
Quando Yvone e seu esposo Eduardo Machado Metello fundaram a associação, foi ela quem iniciou, 1962 a participação oficial de Campo Grande no Concurso Miss Mato Grosso, em benefício da filantropia. Em 1969, a convite do Diário da Serra, a ACBR foi representante do Concurso Miss Campo Grande que se tornou um evento tradicional todo mês de maio de 1962 a 1973. “Minha mãe sempre trabalhou muito pela associação, levava barraca da ACBR para Acrissul durante eventos para arrecadar fundos e manter os atendimentos. Se hoje a gente mantém isso, foi graças ao esforço dela e do meu pai”.
Paulo nunca quis grandes reformas e nem divulgação massiva do lugar que atende cerca de 130 pacientes encaminhados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e convênios. Ele diz que a proposta sempre foi investir no atendimento. “Aqui é um lugar democrático, recebemos todas as pessoas, não importa se ela está descalço ou de chinelo, atendemos e torcemos para que essa pessoa fique bem”.
Hoje, ao lado da esposa Liliane Bicudo Metello, o foco é no atendimento humanizado. “Sensibilidade é tudo. São pessoas diferente e com problemas diferentes que chegam todos os dias até nós, por isso, a gente faz de tudo para ter profissionais sensíveis e que possam proporcionar bem-estar, porque ninguém merece conviver com a dor”, diz Liliane que é bancária e atua todos os dias ao lado de Paulo”.
O maior desejo de Paulo é que a associação continue e que a luta pelos direitos das pessoas com deficiência seja fortalecida. “Porque não é um privilégio. Esse direito foi baseado numa necessidade, porque a própria sociedade gera problemas e obstáculos às pessoas com deficiência. Graças a minha família eu venci e tive todas as condições para sobreviver, mas muitas pessoas necessitam de ajuda”.
(Fonte: Campograndenews)