Professor da Uems se emociona com festa surpresa de estudantes, sem ser seu aniversário
Acelino Carvalho, 61 anos, é um daqueles professores que fazem a diferença na vida dos alunos. O carinho e a gratidão dos acadêmicos do 3º ano de Direito da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) se transformaram em uma bela surpresa regada a poesias na sexta-feira, 19 de maio, em Dourados.“Tratar de certos temas afeitos aos Direitos Humanos, como diversidade, racismo, violência contra a mulher, etc., às vezes gera incômodo e produz consequências indesejadas. E um professor de Direito não pode deixar de abordá-los”, declara Acelino, docente no Ensino Superior há 25 anos.
Essa recente surpresa dos alunos será eterna para ele. “Já recebi muitas manifestações de carinho e reconhecimento. Porém, nenhuma tão especial e tão linda como essa. Verdadeiro bálsamo para continuar firme na minha jornada”, diz emocionado.
Esta sexta-feira, como ele mesmo detalha, poderia ser como qualquer outra, mas não foi. “Entrei em sala, durante o intervalo, para ministrar aula nos dois últimos tempos. Apenas três alunos. Pouco depois, os demais entraram com dois bolos, duas caixas com salgados, refrigerantes etc. De fundo, música de Luiz Gonzaga. Assustei. Não entendi nada. Então disseram: ‘é para o senhor’. Falei: ‘mas não é meu aniversário’”, recorda Acelino.
Então, uma das alunas completou o motivo da homenagem na sala da universidade. “Queremos manifestar nosso carinho pelo senhor e dizer que o senhor é muito importante para nós”, conta Acelino. A turma ainda entregou duas poesias para o professor, uma delas autoral, que foram lidas na hora.
“Fiquei surpreso, meio sem palavras… tomado de profunda emoção. Eles perceberam e com esse gesto tentaram me ajudar a recarregar as baterias. Melhorar meu astral”, revela o professor.
Nordestino em MS – Acelino é nordestino, nascido no Maranhão. Mudou-se para Dourados, a 201 km de Campo Grande, em 1987. Em solo sul-mato-grossense, ganhou o título de “Cidadão Douradense”, em 2009. E as conquistas não param por aí.
“Sou também escritor e membro da Academia Douradense de Letras. Infelizmente, as disputas político-ideológicas vivenciais no nosso país nos últimos anos têm contaminado o ambiente acadêmico”, finaliza Acelino, todo orgulhoso.
Apaixonado por ensinar – Para a filha do professor, ver o pai receber tanto carinho e afeto, ainda mais nesse momento delicado por causa da depressão, foi muito especial.
“Fui aluna do meu pai também, na UEMS, estudei Direito, me formei. Sou da turma de 2013. Como filha e também como aluna, sempre vi os desafios dele. O meu pai é um dos únicos negros [da universidade], um dos primeiros doutores na UEMS. E é desgastante para ele estar nesses espaços, ocupar esses espaços, Ele sempre foi muito dedicado, muito disciplinado, e com muita luta conquistou a carreira que ele escolheu. Ele ama, ele é apaixonado por ensinar”, declara SoulRa, rapper que está trilhando sua carreira em São Paulo.
“E eu pensava muito nele, em São Paulo. Meu pai ficou muito sozinho em Dourados. A minha mãe foi para Campo Grande ajudar minha irmã com os filhos. E ele estava bem triste, abatido. Até que uma amiga minha que é aluna dele hoje mandou pra mim: ‘Amiga, olha pra você ficar em paz’”, explica SoulRa, quando recebeu as imagens da festa que o paizão ganhou dos alunos.
O professor Acelino compartilhou com a reportagem um dos poemas lidos por seus alunos:
“Os verdes cactos do nordeste, que resistem como uma bandeira
e carregam um sábio ditado
na peixeira de quem guerreia
e ele diz assim:
‘Se avexe não, cabra da peste,
que aqui todo mundo é igual.
não tem ninguém melhor que ninguém,
e nem quem mereça mais.
Diante dos olhos do Grande, todo mundo pode mais.
Só tem cabra arretado e todo mundo é capaz’
Por ti, temos o maior respeito
que nos ensina com tanto
carinho
sobre o estado democrático de direito!
(Por Maria Eduarda Borges e Maria Luisa Prudêncio)
Bonito, né? Viva Professor Acelino Caralho! 😍
(Fonte: Por Renata Fontoura e Cristiano Arruda, do Primeira Página/MS)
