Punhal Enluarado: Professora e escritora faz uma leitura crítica-poética de romance

Por Gicelma CHACAROSQUI *

Enluarando leitura de Jaminho no maior contentamento, pois analisar, refletir sobre a semiose da prosa “ matogrossulense”  e/ou sul-mato-grossense é um prazer indelével ! Punhal Enluarado de JJ Barbosa, publicado pela Editora Chiado em 2019, é um romance em que a semiose narrativa, tanto o plano do conteúdo, quanto o plano estético é cuidada e apurada! No plano do conteúdo nos remete a semiosfera “matogrossulense”, de um Mato Grosso, que virou dois e por aqui ficou sendo Mato Grosso do Sul, dividido geograficamente, mas ainda unificado em suas mazelas e belezas, em sua simplicidade e matutice.  O Romance reúne uma série de vinte partes/ contos ambientados em distintos momentos ao logo do século XX, mas com uma única localidade geográfica: a fronteira sul-mato-grossense.

Punhal Enluarado apresenta uma prosa em que as citações borgeanas dão um toque refinado importante, com um forte tom de sensualidade. Todos os capítulos/contos (exceto o último)  contam com abertura de fragmentos de poemas borgianos. A descrição das paisagens, os cenários das ações são feitos de modo a misturar o poético com o botânico, e o geográfico. É incontestável a riqueza dos termos e a descrição de plantas, aves, animais do mateiro, do homem rural. JJ Barbosa revisita, também, narrativas orais da região a respeito de cries/injustiças/ violências,  ficciona literal e literariamente, colocando nas entrelinhas os responsáveis, as personagens reais da vida real, e faz do foco narrativo um misto de narrador héterodietético com o narrador/autor.

O prólogo é um anúncio do que será a obra, ou seja, uma delíciaporã. O autor fronteiriço nos encanta com um prólogo ficcional, que inicia com a confissão indelével de flertar com a influência de Borges ao admitir que a ideia do livro parte da releitura de “La Luna”, poema de J. Luis Borges em homenagem a “lla llegada del hombre a la luna” que para o poeta é “la hajana capital del nuestro siglo”. “Punhal Enluarado tem muito de aves noturnas, eu gosto muito e usei… quase abusei” confessa o autor em prosa aleatória. E há no prólogo o que alinhava os contos, ou seja, uma narrativa poética bem borgiana ( imspirado em la Luna e e o Homem da esquina rosada), que nos apresenta o livro, glosa sobre como foi ajuizado e escrito; compara e/ ou sugere ideias sobre tópicos e personagens.  Toda estrutura do prólogo se faz através de uma voz/personagem, bem ao estilo machadiano, pois a personagem depois de morta, assina a apresentação da escritura.  E ao sas “gentes” embrutecidas pelas paisagens e pelas relações. Punhal Enluarado desnuda nosso folk mixológico de real e fantástico, e materializa o nosso dia a dia em um real, totalmente assinar qualifica a obra com um ineditismo inexorável.

“Muito bem atípado” na linguagem que mescla o linguajar paraguaio com o gauchesco, uma mistura ripava do falar mestiço da fronteira. A escritura de JJ Barbosa se equilibra entre o descritivo e o dissonante! Entre o realismo e o surrealismo! James eterniza nossas paragens, nos surreal!

Todos os capítulos/ parte/contos são  nomeados por personagens e recebem um subtítulo: Olívio ( noite da Festa de são Pedro);  Osório ( meu punhal) ; Onofre ( a recoluta); Orestes ( gado fronteira); Olegário (aviso de cigana);  e assim prossegue pelos  colchetes da escritura apresentando nomes  entrelaçados com acontecimentos que intentam apresentar um retrato da fronteira, uma fronteira liquida, a do porta sul do pantanal, considerada a última guardiã do Rio Paraguai. No derradeiro conto um nome se avulta o de Silvino (matador aprócrito), numa inscrição anunciada pelo notável escritor douradense Brígido Ibanhes, autor da saga do mito gaúcho sul-mato-grossense: Silvino Jacques – o último dos bandoleiros, síntese de nossa poética do embrutecimento. Prepare seu tereré, suas emoções e venha mergulhar nessa aventura de nossas paragens, nossas vivências, nossos costumes mestiços, ficicionizados tão linda e primorosamente por JJ Barbosa Flores em Punhal Enluarado. Se você for dessas terras irá concordar, mas se você não for dessas localidades irá entender, que para além de todas as coisas, a nossa “religião é ser sul-mato-grossense”.

James Jorge Escritor: E num arroubo literário, ela compara/ comenta Punhal Enluarado com o Aleph, atitudes e hábitos dela com personagens de Punhal. Diz que os viu e conversou lá ” do outro lado”. E que são como ela: personagens literárias…

James Jorge Escritor: E a danada assina e se qualifica…

 

*Gicelma é professora pós doc da UFGD, atuando no curso de graduação e no mestrado de Letras da FALE

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