Quando Luiz encontrou 2 pais, a vida deu presente duplo para ele ser feliz
O sorriso de Luiz Otávio, de 8 anos, é tão sincero ao lado dos pais que é impossível não se contagiar. O professor Elton John de Andrade Correa Lima realizou o desejo de ser pai por adoção, sonho que vinha desde à infância. Quando adulto, iniciou a papelada ainda solteiro, foi adotado pelo filho e hoje, depois de um encontrar um grande amor, ele vive a alegria de ouvir o menino dizer que é feliz “por ter dois pais”.
Com histórico de mochileiro nas costas, o professor volta no tempo para falar sobre a recordação mais antiga que ele tem sobre a adoção. “A única certeza que eu tinha na vida é que queria ser pai quando completasse 30 anos. Como sempre tive um pé aqui e outro na estrada, muita gente achou que isso era uma loucura. Mas eu estava disposta a adaptar minha vida para receber meu filho”.
Quando Elton completou 30 anos de vida, no dia 12 de dezembro de 2012, no dia seguinte ele foi ao fórum. “Expliquei que era homem solteiro, disposto a ser pai. Eles me deram uma lista de documentações, orientações sobre o curso, veio assistente social e uma série de questionamentos da psicóloga”.
Na contramão de muitos pais que entram na fila de adoção à espera de um bebê, Elton escolheu ter um menino de 4 a 9 anos de idade. Por isso, nesse contexto de adoção tardia, ele imaginou que seu processo seria o mais rápido de todos. Mas ele precisou esperar 2 anos e 7 meses para ver a justiça conceder sua habilitação para ser pai.
Elton não lamenta o tempo de espera, pelo contrário, afirma que o Judiciário lhe mostrou um outro lado da adoção que até então ele não tinha percebido. “A cada ida ao fórum e visita dos profissionais na minha casa, eu sentia nas perguntas que eu precisava me estruturar. Embora tivesse uma formação e uma vontade muito grande de ser pai, eu precisava ter mais estrutura para receber meu filho. Foi quando eu decidi sair da casa da minha mãe, vendi minha moto para ter um carro, conquistei uma casa, detalhes que fizeram parte de um processo de amadurecimento graças ao tempo de espera”.
À época, quando iniciou o processo, Elton contou para todo mundo, inclusive, para os alunos da escola em que ele dava aula. “Eles me apoiavam muito, torciam junto comigo e aquilo me fortalecia à espera do meu filho”.
Em um dia de muita angústia, Elton decidiu ir ao fórum para ver o processo. Ao chegar, teve uma grata surpresa. “A equipe estava com a ficha de Luiz Otávio nas mãos e verificando a compatibilidade comigo. Quando eu olhei, vi que o único desejo dele era ter um pai. Na ficha também constava que ele adorava correr, pular, brincar, bagunçar e tinha dificuldades pedagógicas. Quando eu li tudo aquilo, eu tive certeza que ele era meu filho”.
Na semana seguinte o professor foi ao abrigo. O início do contato foi através do toque das mãos. Luiz ficou surpreso de ver que o pai tinha cinco dedos. “Porque ele conhecia um senhor da igreja que não tinha dois dedos e essa foi a primeira observação que ele fez”.
Depois de muita conversa e brincadeiras, Luiz passar o fim de semana com Elton fora do abrigo. “Eu o busquei no dia 13 de agosto de 2015, numa sexta-feira. No domingo, foi o Dia dos Pais. Aquele foi o dia mais especial da minha vida”.
Ao fim do dia, Elton precisou levar Luiz de volta para o abrigo. “Parecia que eu estava levando Jesus para o calvário. Foi a viagem mais difícil da minha vida. Mas levei ele para o abrigo com a promessa de que eu voltaria e ele ficou me esperando”.
A entrevista é feita no apartamento dos dois, Luiz, ao lado do pai, também lembra daquele momento. “Era à noite, pai”, explica o menino.
Elton então não teve dúvidas, Luiz o adotou e ele definitivamente estava pronto para ser pai. “No dia seguinte meus alunos começaram a me parabenizar e queriam saber como tinha sido o fim de semana com ele. Lembro que contei tudo muito comovido. Depois da aula, fui ao fórum, contei como tinha sido a experiencia e esperei duas horas sentado para conversar com a juíza. No mesmo dia saí com termo de autorização para buscá-lo no abrigo e ele nunca mais voltou”.
Primeiro dia – Elton lembrou de quase tudo, comprou bermuda, camisa e tênis novo para o primeiro dia do filho em casa. “Como eu ainda não sabia como seria o procedimento de licença, tive que levá-lo comigo ao trabalho. Mas acabei esquecendo da meia e da cueca. Eis que ele foi com a cuequinha que eu ele tinha, mas saiu de casa feliz da vida porque estava usando uma meia minha, a meia do pai”.
Na condição de pai solteiro, à época, Elton teve direito a licença paternidade e maternidade. Durante cinco meses, pai e filho tiveram tempo para se adaptar a nova rotina, escola, costumes, brincar e se conhecer à vontade.
Já nos primeiros dias Elton virou pai. “Na verdade, acho que demorou cinco minutos para ele me chamar de pai. Aquilo encheu meu coração de alegria”.
Casamento – Há dois anos, depois da felicidade de se tornar pai, o destino quis colocar Elton à frente de um amor. “Passeando no shopping”, conta Luiz, ansioso para que o pai conte logo a história do casamento. “Foi quando encontrei o Raphael, começamos a namorar e ele me falou do desejo de ser pai também”, completa Elton.O casamento foi há um ano. A emoção toma conta dos três que hoje formam uma bela família. As lembranças da rotina fazem com que a felicidade se reafirme e Elton não esconde a alegria em ver que Luiz é uma criança feliz por ter dois pais. “Eu sempre quis ter uma família feliz e moderna, mas nunca abri mão de algumas tradições. Aqui em casa todo mundo senta na mesa para comer junto e agradecer à vida. Eu faço questão, Raphael também e Luiz adora”.
Quando lembra do passado viajante e da loucura que as pessoas diziam sobre adoção, Elton fica satisfeito. “O processo de adoção me trouxe amadurecimento, mas não me fez abandonar as viagens. Hoje, quero viajar, mas para lugares que tenham espaço para o meu filho. É igual saída com os amigos, a gente só vai onde tem parquinho. Vida de pai, né?”, finaliza.
Exposição – A história de Luiz Otávio, Elton e Raphael é uma das famílias que tiveram suas vidas transformadas pela adoção e fazem parte de uma exposição fotográfica gratuita no Espaço Gourmet do Shopping Campo Grande. A as fotografias ficarão em exposição até o dia 2 de junho.
Participam os fotógrafos profissionais Alexis Prappas, Allan Kaiser, Beatriz Terra, Beto Nascimento e Leonardo T. Vieira, que aceitram o convite do Tribunal de Justiça (TJMS), por meio da Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ), para registrar o cotidiano de famílias em suas mais variadas formas de adoção. Famílias que tiveram suas vidas transformadas pela vontade de amar.
(Por Thailla Torres, do Campograndenews)