Quase 80% do desmatamento do Cerrado em Mato Grosso foi de forma ilegal, diz ICV
De agosto de 2021 a julho de 2022, Mato Grosso registrou 742 km² de desmatamento no bioma do Cerrado. Cerca de 80%, segundo levantamento do Instituto Centro de Vida (ICV), do desmatamento foi realizado de forma ilegal. Cocalinho teve a maior concentração com 86 km².
A análise consta no Portal de Inteligência Territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), com base em dados do Projeto de Monitoramento do Cerrado (Prodes Cerrado), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Conforme o levantamento, apesar da extensão ainda ser considerada elevada, a mesma representa uma redução de 7,6% se comparado ao período anterior, de agosto de 2020 a julho de 2021.
Coordenadora do programa de Transparência Ambiental do ICV, Ana Paula Valdiones, pontua que, apesar da redução no comparativo entre um ano e outro, o resultado não significa que o desmatamento deixou de avançar no bioma em Mato Grosso.
“É um bioma importante que é conhecido como caixa d’água do Brasil e abriga nascentes de importantes rios, inclusive, os principais rios do Pantanal. Então é preciso encontrar formas de reduzir drasticamente a destruição desse bioma”, diz Valdiones.
Cocalinho lidera – De acordo com a análise, o município de Cocalinho teve a maior concentração de áreas desmatadas no estado, toda a área desmatada do bioma (86 km²) foi ilegal. Já Ribeirão Cascalheira (51,5 km²) e Paranatinga (55,8 km²), municípios que estão em segundo e terceiro lugar no ranking do desmatamento, a ilegalidade foi de 94% e 60%, respectivamente.
O ICV destaca ainda que a maioria dos desflorestamentos (74,3%) são realizados em imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ainda, grande parte desse desmatamento ocorre em grandes imóveis rurais que têm áreas acima de 1,5 mil hectares.
A coordenadora do programa de Transparência Ambiental do ICV frisa que pelo fato de os imóveis serem registrados, os órgãos ambientais têm acesso aos dados e informações sobre os responsáveis pelas propriedades e, por isso, são capazes de realizar ações de fiscalização e aplicar penalidades cabíveis.
“Além das ações de fiscalização, é importante que os acordos de combate ao desmatamento associado as cadeias da carne e de grãos sejam ampliados para o Cerrado, ajudando a proteger o bioma”, salienta Valdiones.
Áreas Indígenas e proteção – As Terras Indígenas tiveram 20 km² de áreas devastadas mapeadas, sendo que a maior área desmatada foi a Wedezé, do Povo Xavante, em Cocalinho.
Já as Unidades de Conservação de Proteção Integral tiveram 9,2 km² de áreas desmatadas e a maior foi o Refúgio de Vida Silvestre Quelônios do Araguaia.
Alta de 25% no Brasil – No âmbito nacional, o total desmatado foi de 10.689 km² no mesmo período. O número representa um aumento de 25% na taxa anual de desmatamento do bioma. (Por Viviane Petroli, do Canal Rural)