Sem uma mãozinha, Malu chegou e transformou visão dos pais sobre a perfeição
No mundo ninguém é perfeito, mas a humanidade rasteja para entender as diferenças. Quando o casal, Rayssa e Eberson, que mora em Aquidauana, a 135 quilômetros de Campo Grande, soube que a primeira filha nasceria com uma deficiência, o desafio de garantir o desenvolvimento saudável da menina terminou por ensinar, aos dois, que ser diferente é normal.
Rayssa de Souza Coelho da Silva, de 26 anos, é uma mãe sincera. Não esconde que um dia pediu apenas por um filho perfeito e levou um susto quando soube que Maria Luiza, hoje com três meses de vida, nasceria sem a mão esquerda.
Hoje, ela e o marido fazem questão de narrar, todos os dias, a transformação que a filha trouxe para o mundo e o coração do casal. “Com cinco meses de gestação, durante ultrassom, a médica me disse que havia uma notícia difícil. No meu coração, o medo de uma deficiência e da minha falta de experiência cuidar da minha própria. Aliás, acredito ser o medo de muitas mães”, conta Rayssa.
A médica revelou uma malformação no braço esquerdo de Maria Luiza, que nasceu sem mão e apenas com minúsculos dedinhos. “Naquele momento, ao invés de tristeza, senti um alívio. A médica se assustou com a minha reação, e eu disse que minha filha viria para mudar o meu conceito de perfeição”.
Religiosa, Rayssa não teme em dizer que, durante muito tempo, pediu o contrário. “Eu orava pedindo por um filho ou filha perfeita, e toda vez eu sentia um constrangimento com o pedido, como se Deus me questionasse se eu não seria capaz de amar e cuidar um filho que viesse diferente”.
Quando a filha nasceu, tudo mudou. E por acreditar na dificuldade de outros pais, Rayssa decidiu expor o sentimento e provar ao mundo que a filha é capaz de ter uma vida normal. Nas redes sociais ela tem colocado um pouquinho da rotina de Malu, a pequena de três meses que sorri, brinca e é feliz com apenas uma mãozinha.
“Na minha cabeça ela é perfeita por ser diferente e ninguém é igual nessa vida. As pessoas, às vezes, ficam assustadas da forma como eu falo que ela não tem uma mão, mas ela não tem mesmo e vai continuar sendo assim”.
Rayssa já passou por situações constrangedoras em que pessoas chegam a olhar fixamente para o braço da filha. Em alguns casos, a mãe responde com um sorriso ou explica que Malu, simplesmente, nasceu sem mão.
“As pessoas perguntam se eu tive algo durante a gravidez, se tomei algum remédio, mas nunca aconteceu nada disso, ela só nasceu assim, não há uma explicação médica para o que aconteceu e nós não nos lamentamos por isso”.
Com o Instagram e um pouco da história da filha publicada no dia a dia, Rayssa se deparou com inúmeras histórias semelhantes e a dificuldade dos pais em lidar com a deficiência. “Mães me chamam no privado para contar que tem um filho com deficiência e não sabem como falar abertamente sobre isso, algumas dizem que Malu tem sido uma inspiração e eu acredito nisso, porque ela tem sido pra mim todos os dias”.
A mãe assume mudou nos últimos três meses. “Sabe aquela coisa de desejar que tudo na vida seja perfeito? Pois é, isso também muda. A cada conquista, cada sorriso, cada coisa que ela pega com sua única mão e leva à boca, me dá certeza que ela vai ser muito feliz, independente da condição”.
Mas nem todo mundo reage com naturalidade ao jeito de Rayssa. “Esses dias estava em busca de uma luva de morder, justamente porque ela só tem uma mãozinha para colocar na boca e quando eu falei isso, a pessoa achou que eu estava brincando. Na hora dei risada e encaminhei uma foto. Pra mim é natural falar sobre isso”.
Rayssa adianta que o objetivo não é expor, mas compartilhar experiências para que outros pais proporcione um mundo com mais naturalidade aos filhos. “Eu não passo insegurança porque daqui a alguns anos ela vai precisar lidar com olhares e mundo de chateações, mas vai estar segura para enfrentar todos os desafios, não tenho dúvidas”, diz a mãe.
(Por Tailla Torres, do Campograndenews)