Sem veneno: Escola cultiva horta orgânica e produz mais de 10 variedades
Com mais de 20 anos, a horta do Educandário Espírita Maria de Nazaré, no Bairro 1º de Março, na Capital, cultiva verduras, plantas medicinais e ornamentais totalmente sem veneno e de maneira sustentável ao meio ambiente.
Segundo a engenheira agrônoma e voluntária da escola, Aparecida Hurtado Soares, em cerca 15 metros quadrados tem hibisco, erva cidreira, gengibre, anador, taioba, cebolinha, alho em folhas, melão de são caetano gigante, rúcula, moringa, maracujá, rosa do deserto e um pé de fumo.
Com as plantas medicinais, é feito chá para os alunos e para os pacientes do Lar de Eurípides, da Associação Espírita Wantuil de Freitas.
Já os alimentos produzidos são destinados à alimentação das crianças, para o sopão realizado pela associação espírita, mas também é vendido para pais e professores.
“A gente estava vendendo a R$ 2 a rúcula e R$ 1 a cebolinha e o alho. Como é pouco ainda, nós vendemos no grupo dos pais. Os pais vêm buscar as crianças e já compram”, explica.
A agrônoma alerta que o agrotóxico utilizado no cultivo dos alimentos é muito perigoso para a saúde do consumidor e que é necessário repensar as formas de consumo.
“Saber a fonte do nosso alimento é super importante, porque a maioria dos produtos que estão na prateleira são geneticamente modificados ou são produzidos a base de muito veneno. A gente precisa falar da questão do agrotóxico, o quanto é perigoso e o quanto tem sido danoso”, afirma.
De acordo com Aparecida, cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa são provenientes de agricultura familiar, que luta para resistir ao agronegócio no Estado. No entanto, nem todos produzem de forma livre de agrotóxicos devido ao pacote tecnológico da Revolução Verde, que ocorreu na década de 70.
“Mesmo tendo menos subsídio, menos terra, ela [agricultura familiar] ainda continua resistindo e colocando comida na nossa mesa. Muitos não produzem de modo agroecológico. A maioria dos agricultores perderam um pouco esse jeito de produzir sem veneno, conforme a sabedoria que adquiriram dos antepassados”, afirma.
Para ela, o ideal é incentivar as hortas agroecológicas, que não fazem uso de venenos e não causam grandes impactos ao meio ambiente.
“Os benefícios são inúmeros. Além de ter um alimento fresco, você tem um alimento de qualidade e também tem a harmonização com as plantas. Faz bem para a saúde. Essas verduras têm muito potencial, são de qualidade”, ressalta Aparecida.
A agrônoma aconselha aqueles que querem ter uma alimentação saudável a frequentarem as feiras livres. Apesar de o alimento orgânico ser destinado ao nicho de mercado com alto poder aquisitivo, portanto ser mais caro, as feiras livres ainda são de pequenos produtores.
“O acesso a uma alimentação melhor se dá principalmente através de feiras livres. A maioria dessas feiras livres é onde os agricultores expôem seus produtos e vendem. A maioria desses produtos ainda é sem veneno”, diz.
Mãos na terra
Além de alimentar os estudantes, a horta também é utilizada no aprendizado das crianças, que tem entre oito e 11 anos.
A agrônoma passou a dar aula há dois meses e estava muito apreensiva em trabalhar pela primeira vez com crianças, mas logo no primeiro momento a experiência foi bem sucedida.
“No início, fiquei um pouco preocupada porque eu sempre tive contato com agricultoras, meu trabalho sempre foi com mulheres de assentamentos. Mas, agora, toda sexta-feira é uma troca de energia muito grande. A gente se gosta, se diverte e aproveita cada instante”, relata.
A disciplina de horticultura, ministrada pela voluntária, faz parte da grade curricular da escola e os alunos aprendem mais do que apenas os processos de cultivo.
“A gente não fala só da produção, da importância da alimentação, da importância da nutrição do corpo, mas também fala o porquê de produzir de uma forma agroecológica, sustentável, utilizando os insumos que a gente pode reverter”, conta Aparecida.
Conforme a voluntária, isso também incentivou os seus alunos a passarem a comer mais verduras e legumes, além de transmitir o que aprenderam para a família.
“Elas já começaram a ver as plantas de outro jeito, inclusive a produzir na própria casa. Eles aprendem tudo isso e estão passando esse conhecimento para a família. É uma disseminação de saberes”, avalia.
Além disso, trabalhar na horta passou a ser um tipo de terapia para a agrônoma. Como ela está escrevendo a dissertação de doutorado, ela precisava de algo para descansar a mente.
“Trabalhar com plantas, para quem gosta, é uma terapia, não chega a ser só um trabalho de produzir. Você está em contato com a terra, com a planta”, diz.
Agora, a escola planeja fazer um sombrite para poder cultivar hortaliças mais delicadas ao sol, como o alface.
(Por Bianca Fujimori, do Midianews)