Ser diferente é normal: “Ele nunca se importou com a minha deficiência”
Por Vera Garcia de Faria, 54, em depoimento a Júlia Rodrigues
Aos 45 anos, eu já havia tido namoros sérios, mas nunca um que resultasse em casamento. Isso mudou quando conheci o Hélio em um site de relacionamentos para pessoas maduras — ou mais velhas. Eu tenho uma deficiência física: meu braço direito foi amputado quando eu tinha 11 anos devido a um acidente. Sempre lidei muito bem com essa característica minha, mas fiz questão de colocar uma observação sobre isso em meu perfil para evitar constrangimentos. De início, eu percebia que muitos homens puxavam assunto comigo por curiosidade, queriam saber qual era a deficiência que eu tinha, já que às vezes não era muito perceptível nas fotos postadas.
Uma semana depois de entrar no site, o Hélio me chamou. Eu morava em Campinas e ele, em Limeira, no interior do estado. Gostei dele — ao contrário dos outros, Hélio nem fazia questão de saber qual era a minha deficiência —, mas fui cautelosa e fiz uma “pré-apuração” antes de avançarmos na conversa: procurei o nome dele no Google, fiz perguntas específicas para ver se as respostas batiam com as informações que ele me passava e decidi que nos falaríamos por e-mail e só depois pelo telefone. Um dos primeiros e-mails que ele me mandou foi praticamente uma carta sobre a vida dele — que eu inclusive guardo até hoje. Essa sinceridade foi o que me encantou.
Nosso primeiro encontro foi em um shopping, um mês depois. Tudo aconteceu muito naturalmente, sempre passo a passo. Começamos a nos encontrar no meu apartamento e, na segunda visita que ele me fez, já o levei para conhecer meus pais. Não houve pedido de namoro e o de casamento foi muito simples. Hélio só propôs que juntássemos nossas coisas e, um pouco antes da cerimônia, eu fui morar com ele em Limeira. Nos casamos em dezembro de 2014, em uma festa mais para a família.
Hélio é mineiro. Não sei se isso é qualidade de quem nasce em Minas Gerais, mas ele é muito simpático, ótimo para fazer amigos. Uma paixão que ele tem é a cozinha: faz um pão de queijo que todo mundo ama. Ele é o tipo de pessoa que, quando você chama para sair, independente do horário, topa. Se eu disser que gostaria de comer um bolo às 9 da noite, ele vai e assa um bolo. É impossível não se apaixonar.
Somos muito parceiros, porém, ao mesmo tempo, temos nossa própria vida. Se eu quero sair ou viajar, pego o carro e vou. Aprendi com minha mãe a ser independente e a não ligar para o preconceito alheio. Faço tudo sozinha. Não tenho vergonha de pedir ajuda, mas, se não tiver ninguém presente, dou um jeito e adapto de uma maneira que fique mais fácil para mim. Em casa, o Hélio me ajuda com algumas tarefas, como cortar legumes, por exemplo.
Tenho um blog chamado Deficiente Ciente (deficienteciente.com.br) desde 2009 e, mais recentemente, criei um canal no YouTube. São os meios que uso para falar sobre os direitos das pessoas com deficiência. Meu marido me apoia demais e muitas vezes assiste aos meus vídeos antes de postar.”
(Fonte: vejasp.abril.com.br)