Toda população de Rondonópolis está exposta a produtos altamente perigosos, diz estudo da UFMT
Para pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), toda população de Rondonópolis foi potencialmente atingida por produtos altamente perigosos. A avaliação é resultado de um estudo que indicou contaminação por agrotóxicos nas águas superficiais, subterrâneas e de abastecimento nas áreas urbanas e rurais do município.
As amostras de água superficial foram coletadas pelos pesquisadores Débora Calheiros e Wanderlei Pignati nos rios Vermelho, Tadarimana, Arareau e no córrego Lourencinho. Foram reunidas amostras de sedimentos nos rios Arareau e Tadarimana. Os espécimes de água subterrânea ou de abastecimento urbano foram coletadas diretamente das torneiras, nas pias das cozinhas, bebedouros ou jardins em escolas de áreas urbanas e rurais, além do presídio local. Acesse o artigo na íntegra.
Nas análises foram detectados quatro ingredientes ativos de agrotóxicos em amostras de água sendo eles: Atrazina (herbicida), Carbendazim (fungicida), Carbaril (inseticida) e Clomazona (herbicida).
“Na verdade, potencialmente, toda a população do município foi exposta a esses compostos”, diz trecho da pesquisa da UFMT.
Atrazina e Carbendazim foram detectados abaixo do Valor Máximo Permitido (VMP) para água potável. O Carbaril e a Clomazona não são listados na legislação e isso, de acordo com os cientistas, poderia caracterizar as amostras de água como impróprias para o consumo humano, uma vez que se detectou Ingredientes Ativos não previstos na legislação protetiva.
Os pesquisadores descobriram também que, no caso do Clomazona, todas as amostras estariam em “não conformidade”, pois os valores obtidos apresentaram-se acima do permitido na União Europeia (0,1 µg/L) para água potável e para água superficial (0,05 µg/L – Canadá).
Em termos de grau de toxicidade humana, os quatro Ingredientes Ativos observados pelos pesquisadores são classificados como mediamente e altamente tóxcios. Quanto aos riscos ambientais, os compostos são classificados como perigosos e muito perigosos ao meio ambiente.
No artigo, foi observado ainda a contaminação da água bruta do Rio Vermelho, que é utilizada para abastecimento na área urbana e rural, bem como as amostras de chuvas em área urbana por estes Ingredientes Ativos que, segundo os autores, são fabricados pela empresa Nortox S/A nas proximidades.
Em nota, a empresa contestou a associação e afirmou que a fábrica de Rondonópolis está desativada desde 2011.
Para os estudiosos, esses resultados evidenciam a contaminação, principalmente do herbicida Clomazona, em todos os pontos amostrados, tanto em água potável (rede de abastecimento e poços subterrâneos), como em água superficial (rios e córregos) e na chuva.
De acordo com os pesquisadores, este é um ingrediente ativo classificado como medianamente tóxico para o homem e altamente perigoso para o meio ambiente. Entretanto, devido à sua elevada volatilidade e solubilidade em água, o seu impacto potencial nas águas superficiais, subterrâneas, nos organismos aquáticos e em humanos deve ser melhor avaliado.
Além disso, os pesquisadores citam que o município apresentou entre 2012-2014 coeficientes de intoxicação aguda a cada 100 mil habitantes, subaguda – malformação fetal – a cada mil nascidos vivos e crônica – mortalidade por câncer infanto-juvenil – por 100 mil habitantes.
Para os pesquisadores, o uso de agrotóxicos deveria ser melhor fiscalizado pela sociedade, além das instituições das áreas de agricultura, meio ambiente e saúde. Eles afirmam ainda que o discurso de gestores e produtores rurais baseia-se na crença de que agrotóxicos são fundamentais para a produtividade agrícola, mas que não geram impactos à saúde e ao ambiente. Os autores relatam ainda que, em geral, “o que se identifica é, na verdade, a falta de desenvolvimento de ações de vigilância do uso de agrotóxicos, tanto para a saúde ambiental quanto para a saúde humana”.
Outro lado
Em nota, a Nortox, citada na reportagem, afirmou que é leviana a tentativa de associar a empresa aos resultados do estudo porque a fábrica em questão está desativada desde 2011.
O Serviço de Saneamento Ambiental de Rondonópolis Terezinha Silva de Souza (Sanear) também respondeu, por meio de nota, que os “dados aferidos da água tratada ETA – Estação de Tratamento de Água -, fonte manancial superficial Rio Vermelho, apontam que os parâmetros de agrotóxicos encontram-se dentro dos padrões estabelecidos pela legislação nacional vigente” e “atende aos padrões de potabilidade para consumo humano”.
Já a Secretaria Municipal de Sáude e a Secretaria de Estado de Saúde não responderam aos pedidos de manifestação sobre os resultados do estudo.
Manifestação da Nortox:
A respeito da menção que se faz à NORTOX no estudo “Agrotóxicos – Desafios e Perspectivas na Defesa da Saúde Humana, Ambiental e do(a) Trabalhador(a)”, sob a alegação de que teria sido detectada a presença do fungicida Carbendazim nas águas do Rio Vermelho, em Rondonópolis – MT, fato esse que demandaria um aprofundamento do estudo em vista de tal insumo ser formulado por esta empresa na referida localidade, a NORTOX tem a informar o que segue:
01. No bojo do aludido estudo, observa-se que o monitoramento havido no município de Rondonópolis foi realizado entre os anos de 2014 e 2017 pelo sistema VIGIAGUA, do Ministério da Saúde, e que a verificação dos ingredientes ativos detectados nos referidos pontos de coleta ocorreu no mês de outubro do ano de 2018.
02. Inicialmente, cumpre ponderar que se mostra leviana a sugestão de associar a NORTOX a tais apontamentos. Isto porque a sua fábrica situada em Rondonópolis encontra-se desativada desde dezembro de 2011, sendo que desde então sua estrutura é utilizada apenas como armazéns de produtos acabados, embalados e paletizados, próprios e de terceiros, dado esse já constatado e certificado pelos órgãos competentes, como a SEMA-MT, a VISA Municipal e o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso, que anualmente fiscalizam as suas edificações, onde nenhuma irregularidade foi constatada.
03. A Nortox não é a única companhia que formulou e comercializou o referido insumo agroquímico, de modo que atribuir a ela eventual culpa mostra-se ilegal e descabido. Além do mais, há que se considerar ainda o dato de que a noticiada contaminação ambiental pode nem mesmo estar associada a atividade fabril, mas a outros fatores que não parecem ter sido objeto de análise pelos autores do referido estudo.
04. Por fim, é importante frisar que as instalações da Nortox jamais deram causa a qualquer acidente ou vazamento de insumos. Logo, identifica-se que não há qualquer possibilidade ou mesmo indício de que a alegada contaminação ambiental tenha sido causada pela Nortox, mesmo porque há mais de uma década a empresa não produz uma gota sequer de defensivos agrícolas em suas instalações no município de Rondonópolis.
Manifestação da Sanear:
Em resposta ao pedido de informações feitos pelo Midiajur acerca das conclusões do estudo “Contaminação Por Agrotóxicos na Água de Abastecimento em Rondonópolis, Mato Grosso”, o Serviço de Saneamento Ambiental de Rondonópolis Terezinha Silva de Souza (Sanear) esclarece que:
1) são realizados semestralmente, conforme Plano de Amostragem aprovado pela Visa Municipal, a coleta e análise dos parâmetros estabelecidos na legislação vigente do país, atual Portaria GM/MS n 888/2021, entre eles os parâmetros de agrotóxicos, realizado por laboratório contratado por meio de licitação e que atendem aos requisitos de gestão de qualidade, sendo realizada as análises da água bruta (água captada do Rio Vermelho) e água tratada;
2) Os resultados analíticos são lançados no sistema de informação de qualidade de água do Ministério da Saúde – SISAGUA e disponível para consulta pública;
3) Os dados aferidos da água tratada ETA – Estação de Tratamento de Água, fonte manancial superficial Rio Vermelho, apontam que os PARÂMETROS DE AGROTÓXICOS encontram-se dentro dos padrões estabelecidos pela legislação nacional vigente, atendendo aos padrões de potabilidade para consumo humano.
(Por Celina Nobre, do Mídiajur)