Unidos na vida e na morte: 30 horas depois, Covid leva Maria, a Amada de Merces por 52 anos
Um roteiro triste para os familiares por perderem suas referências de vida foi escrito entre os dias 2 e 4 de janeiro deste ano, em Dourados. Um casal que conviveu em comunhão por 52 anos se despediu do plano terrestre em cerca de 30 horas de intervalo da partida de um e de outro.
Merces Dias foi vítima letal da covid 19 no final da noite do dia 2, sendo sepultado no final da manhã do dia 3. Maria Amada Dias, sua companheira de vida, faleceu por volta das 9h deste dia 4, com o sepultamento ocorrendo no final da tarde desta segunda-feira.
“Meus pais não se separaram nem na morte. Ele se foi e ela o seguiu. Obrigado por tudo”, escreveu na rede social Merces Dias Junior, o primeiro dos três filhos do casal, que deixou também cinco netos.
Ainda abalados pelo passamento de Merces e Maria, os familiares citam a coincidência de suas partidas eternas como um acalento para suas almas. “Viveram toda uma vida juntos e foram embora praticamente de mãos dadas. E o mais importante: com a missão bem cumprida aqui na terra”, sintetizou Hamilton Nogueira Dias, o neto mais velho de Merces e Maria.
O filho José Mário, que morava e cuidava de Merces e Maria também se ampara na história de vida dos pais para suportar a perda dos dos dois. “Foram guerreiros brilhantes enquanto estiveram conosco”, pontua Zé Mário.
Ele teve uma vida dedicada ao futebol em Dourados, sendo jogador e depois treinador do Ubiratan Esporte Clube, time tradicional da cidade e da região até década de 1990. Foi também exímio alfaiate, ofício que conciliava com a carreira na época de ouro do futebol douradense. Merces foi um dos alfaiates mais requisitados de sua época em Dourados.
Já Maria Amada, além de cuidar da casa e de seu Merces, também trabalhou fora para ajudar o companheiro de vida na formação e sustento da família.
Outra coincidência de datas antes da morte de Merces Dias e Maria Amada foram os dias em que foram internados no hospital. Ela foi hospitalizada no dia 26 de dezembro e ele no dia 27, mas a morte levou Merces um dia antes de sua Amada. Maria tinha 73 anos e Merces 83, sendo que os dois tinham comorbidades e eram do grupo de risco.
Para Merces Dias Junior – que adaptou sua vida profissional e familiar para ficar próximo de seus pais – a partida deles deixa um vazio imenso. Mas, apesar do impacto emocional provocado pela morte dos pais, ele escora na trajetória de vida deles para suportar a separação eterna. “Construíram uma linda história e serão, para sempre, nossa referência de vida”, assinala Mércinho, como era chamado por seus pais, Merces e Maria.
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