Voz do Araguaia: Corpo de Dom Pedro começa ser velado nesta segunda e o sepultamento será quarta-feira, “na sua casa”

A cerimônia de despedida do eterno Bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, Dom Pedro CasaldaliGa, será iniciado na noite desta segunda-feira(10) e seu sepultamento acontece na manhã de quarta-feira(12). O sacerdote da igreja católica morreu aos 92 anos no sábado, 8, em Batatais-SP, para onde havia sido transferido para tratamento de saúde. Os exames descartaram a causa da morte como sendo de covid 19. A primeira missa de corpo presente foi realizada ainda no interior de São Paulo.

No Mato Grosso, o ritual começa em Ribeirão Cascalheira, onde está o Santuário dos Mártires da Caminhada, edificado por Dom Pedro em memória ao padre João Bosco, assassinado por um policial militar. Hora antes do crime, João Bosco e Pedro haviam resgatados uma mulher vítima de tortura na delegacia local. O crime ocorreu em 1.976, época em que imperava de forma ostensiva a grilagem de terras no Mato Grosso. O velório em Ribeirão será até às 12h de terça dia 11. No local será realizada uma “reza popular” com o terço cantado por foliões que vem do sertão.

Devido a pandemia do Novo Coronavirus a participação será controlada e as cerimônias seguirão as regras sanitárias de distanciamento social. As 20h30m começa a Vigília dos Mártires da Caminhada, que seguirá até a saída do corpo para o sepultamento em São Félix.

O sepultamento está previsto para o dia 12, em São Félix do Araguaia, “a casa” de Dom Pedro no Brasil por 52 anos. Ele será sepultado no Cemitério dos Peões, onde estão enterrados lideranças indígenas e trabalhadores rurais mortos por resistirem ao processo de invasão dos grileiros que atuavam na região. Seu túmulo será vizinho de seus companheiros de luta pela não violência nos conflitos por terra naquela região do Mato Grosso.

ADEUS A CASALDÁLIGA

Com problemas respiratórios agravados pelo Mal de Parkinson, Casaldáliga foi levado de Mato Grosso para o interior de São Paulo na noite de terça-feira (4) em uma unidade de terapia intensiva (UTI) montada dentro de um avião.

Um terceiro exame – complementar a outros dois realizados em Mato Grosso – descartou que o paciente tenha contraído Covid-19.

Na tarde de sexta-feira (7), segundo o último boletim médico divulgado, o paciente estava com infecção no pulmão, em um quadro clínico grave e ele respirava com ajuda de aparelhos.

Nascido em 16 de fevereiro de 1928 em Balsareny, na província de Barcelona, mudou-se da Espanha para o Brasil aos 40 anos. Veio como missionário, para trabalhar em São Félix do Araguaia.

Pertencente à congregação dos missionários claretianos, foi o primeiro bispo da Prelazia do município – a nomeação, em 1971, partiu do Papal Paulo VI. Dom Pedro Casaldáliga ocupou o ofício até 2005, quando renunciou.

Já nos primeiros anos no Brasil, Casaldáliga envolveu-se, ao lado de outros padres espanhóis, na defesa de povos indígenas, ameaçados pela violência dos conflitos agrários e pela expansão dos latifúndios na região.

Casaldáliga foi um dos responsáveis pela fundação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ainda na década de 1970. Em 2000, o bispo foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Seu trabalho junto aos índios xavantes, após anos de embate judicial contra latifundiários e produtores rurais, fez com que recebesse ameaças de morte em 2012.

Além da atuação pastoral, Casaldáliga ficou conhecido pela produção literária, tanto de poesias quanto de manifestos, artigos, cartas circulares e obras com cunho político ou de temas ligados a espiritualidade, publicadas no Brasil e no exterior.

Em 2013, recusou-se a dar seu nome a um prêmio de jornalismo por se opor à nomeação da então secretária estadual de Cultura, Janete Riva.

Em 2014, o bispo foi tema do filme biográfico “Descalço sobre a Terra Vermelha”, feito por duas produtoras espanholas em parceria com a TV Brasil. (Redação com G1 – Fotos: Reprodução)

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