Documentário mostra a trajetória da implementação da lei da história da raça negra na região Oeste de Mato Grosso
Desde que a lei n.10.639, que trata da obrigatoriedade para que as escolas públicas brasileiras passem a oferecer em seus currículos a temática de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana foi aprovada em 2003 o caminho para a implementação não tem sido fácil. Demonstrar essa trajetória é o objetivo do documentário “Sob Múltiplos Olhares” que está sendo produzido em Cáceres, pelo cineasta Leandro Peska e pelo professor Paulo Alberto Santos Vieira, como fruto de um projeto de extensão da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).
O lançamento do filme “Múltiplos Olhares” está previsto para maio deste ano, mas já é possível assistir a uma prévia do que está para ser lançado. A produção mostra como professores, estudantes, gestores escolares dos municípios de Cáceres, Pontes e Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade estão lidando com a determinação legal dentro das escolas. “O que estamos percebendo com a produção desse documentário é que a lei veio para contribuir e minimizar o desconhecimento, mas a sua implementação de fato, é uma trajetória longa”, explica o cineasta Leandro Peska.
O professor e ativista social Paulo Alberto, que também coordena o Núcleo de Estudos sobre Gênero, Raça e Alteridade (Negra) da Unemat, afirma que o que se pretende com esse documentário é criar mais um mecanismo de divulgação e de diálogo que sirva de inspiração para outras ações de extensão universitária e de pesquisa acadêmica em relação ao tema mais geral que é são das relações raciais na sociedade brasileira e especificamente como vem se dando o longo processo de implementação de uma lei. “Esse documentário é uma espécie de raio-X de 15 anos de processo de implementação, então onde avançou, porque avançou, por que não avançou”, explica o professor.
O documentário é fruto dessa parceria entre o Negra e o produtor cultural e cineasta Leandro Peska por meio da sua empresa “Cubo Mágico”. O projeto de extensão que tem o mesmo nome do documentário, está institucionalizado, mas não representou qualquer ônus para a universidade, sendo fruto de uma ação voluntária dos envolvidos “Eu tive interesse pela temática quando a gente conversou (eu e o Paulo Alberto) e resolvemos bancar a ideia”, explica o cineasta. De acordo com Leandro a vontade de unir uma proposta mais acadêmica com uma visão mais cinematográfica foi a mola propulsora do filme. “Além disso, não se tem esse tipo de registro com foco na região, então me pareceu interessante ouvir pessoas dessas três cidades: Cáceres, Pontes e Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade” completa. O professor Paulo Alberto ressalta que sem o desprendimento de Leandro em aceitar fazer parte do projeto, a ideia não teria saído do papel e não seria viabilizada.
O filme está em fase de finalização e a expectativa é o que seja lançado em maio deste ano, num evento que o Negra deverá promover, que é a Semana de estudos Étnico-raciais. Mas a ideia é que além do filme, o curta metragem com duração aproxima de 20 minutos, seja também lançado no futuro uma web serie, em que será possível ouvir os depoimentos completos de todos os entrevistados e assim explorar mais a riqueza desses depoimentos sobre esse processo de implementação da lei nas escolas e municípios da região. “Nossa expectativa é que após o projeto concluído é que dentro da universidade se possa abrir nossas possibilidades junto a universidade, inclusive com parcerias com empresas privadas para se qualificar o debate sobre a extensão universitária, e quem sabe gerar até outros documentários que já estão sendo conversados para projetos futuros”, diz Paulo Alberto.
Após o lançamento oficial do documentário, o mesmo deverá ser exibido em mostras de cinema e audiovisual no país e até mesmo no exterior, além de concorrermos em festivais de cinema. Ao todo foram realizadas 10 entrevistas com pessoas de perfis diferentes, como ativistas de movimento negro, gestores de escolas, estudantes e professores que tem trabalhado com o tema da lei 10.639 há algum tempo.
Como produtor, o cineasta Leandro Peska, acredita em avanços por conta da lei, mas lembra que é necessário realizar mais investimentos. “Sem dúvida é um avanço. É toda uma rede, quem faz a licenciatura precisa ter conhecimento também para poder depois passar para frente. É necessário investir mais em formação universitária, adequação das escolas, adequação dos gestores mesmo, que muitas vezes não tem o conhecimento sobre a lei, sobre a história e cultura afro-brasileira, então precisa de adequação. Na experiência que tivemos, a maioria dos que trabalham a temática são homens e mulheres negros, mas também tivermos pessoas não negras que defendem e apoiam o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana”, diz Leandro.
Sob o cineasta e produtor cultural:
Leandro Peska é cacerense, tem 31 anos, é cineasta e produtor cultural, está há mais de 10 anos no mercado audiovisual. Graduado em Cinema pela Universidade Estácio de Sá (RJ) e especialista em Direção Cinematográfica pela Academia de Cinema de Nova Iorque (New York Film Academy). Desde 2017 realiza projetos que aproximam os laços do cinema com a educação.
(Cáceres Noticias)