Fotógrafos constroem aviãozinho de papelão para retratar menino com paralisia como ‘O Pequeno Príncipe’
“Se é como um príncipe livre que ele se imagina, se é o que ele quer ser, então é assim que ele deve ser visto, é assim que ele precisa se ver”, relata o fotógrafo voluntário Alessandro Riquelme, autor de um ensaio “caseiro”, feito ao lado da esposa, como presente de aniversário para um menino especial: Gustavo tem paralisia cerebral e foi retratado, junto com sua cadeira de rodas envolta por um aviãozinho de papelão, como O Pequeno Príncipe.
A família mora em Campo Grande (MS), e a ideia surgiu após um desabafo da mãe de Gustavo, Cleyla Borges, em uma rede social: “Ele já recebeu 3 vale-ensaios, mas por alguma razão, quando chega o momento, os fotógrafos desistem, desmarcam. Sinto que há um preconceito, um medo da criança com paralisia não ter expressão, uma dificuldade em relacionar a cadeira de rodas com algo realmente bonito”, declara.
Sabendo da decepção de Cleyla, a prima Rose ofereceu-se para produzir o ensaio que o marido faria com a câmera do casal em um parque da cidade: “Pesquisei na internet e me chamou a atenção que a maioria das fotos eram de crianças cadeirantes que apareciam em situações que para outras crianças são normais, por exemplo, segurando um skate”.
“Nós sabemos que ele nunca vai andar de skate, se é para retratar algo impossível, que seja algo que ele não possa realizar simplesmente por ser uma fantasia, como transformar sua cadeira de rodas em um avião.”
O primeiro passo foi tirar as medidas da cadeira de Gustavo para criar um molde do tamanho certo. “Depois, pedi caixas para alguns amigos que tem comércio e conseguimos papelão suficiente para fazer o avião”. A mãe de Rose ofereceu-se para costurar as fantasias e criou 2 trajes para o menino. “A rosa eu já tinha em casa, comprei uma coroa e outros acessórios para que ele se sentisse, realmente, como um príncipe”, relata.
O aviãozinho foi adaptado à cadeira para que ela fizesse parte da foto como é parte da vida do menino e, junto com o irmão, Yan, Gustavo foi retratado na cena com o aviador, uma das mais emblemáticas do clássico. “Por mais que ele tenha paralisia, o Gustavo sabe tudo o que está acontecendo, ele tem o direito de sentir a emoção, de viver a fantasia como qualquer outra criança”, declara.
“Existe esse preconceito de achar que a criança com paralisia é limitada, que ela vegeta e não é assim. Ele ficou eufórico quando fomos experimentar as roupas, quando o levamos ao parque, o sorriso dele mostra uma criança que sabia exatamente o que estava acontecendo.”
“Cada ano que passa é mais uma conquista para o menino que não viveria além dos 3 anos de idade” declara, emocionada, a mãe do menino. Gustavo nasceu aos 7 meses e teve diversas complicações, mas superou a expectativa dos médicos: ele completa 11 anos na próxima quarta-feira (10).
Para Cleyla, o ensaio retrata a alegria do menino e isso diz muito sobre como uma criança com paralisia cerebral vê o mundo: “A dificuldade dele é de fala e motora, no mais, ele sente as emoções como qualquer criança”. Para a prima, o ensaio foi uma maneira de dizer a Gustavo que ele pode viver momentos mágicos como esse:
“Nós sempre tratamos o Gustavo da mesma forma que todas as crianças da família e apesar dele ter paralisia, estamos aqui para realizar os sonhos dele muito além de qualquer preconceito ou dificuldade”, finaliza.
(Fonte: G1MS)