Na base da troca, Romário saiu de MS para conhecer o mundo sem gastar fortuna
O campo-grandense Romário Delgado Nunes, de 27 anos, tornou-se exemplo para milhares de seguidores nas redes sociais ao mostrar que para viajar o mundo é preciso pouco dinheiro e muita coragem. Depois de fechar uma empresa, largar a casa e descobrir o lado positivo de viajar sozinho, ele encontrou um jeito de conhecer outros países sem investir um centavo, tudo na base da troca.
Por onde passa Romário se dispõe a trabalhar em qualquer coisa. O salário vem em forma de hospedagem e alimentação. Foi assim que já conseguiu aproveitar o melhor do Paraguai, da Argentina, Peru, Chile e agora México, onde está vivendo há 15 dias.
Nessa onda de demostrar força de vontade para qualquer ofício, ele já atuou na área de Marketing Digital – sua profissão oficial – mas já trabalhou na recepção, limpeza, café da manhã e até passou um tempo como cuidador de lhamas no Chile, onde além de hospedagem, ganhou hora extra com paisagens incríveis e a fofura dos animais.
Foi depois de encarar um mochilão sozinho pela Bolívia, chegando ao Salar do Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, que Romário decidiu mudar de vida. “Sempre tive vontade de viajar, não tinha condições perfeitas para fazer a viagem dos sonhos, mas não me faltava vontade. Fazer um mochilão sozinho foi um divisor de águas da minha vida”.
À época, o empresário entrou na Bolívia por Corumbá após encontrar um roteiro perfeito que coube no orçamento. Foi então que descobriu desafios e os prazeres da simplicidade. “Quando fiz essa viagem foi a primeira vez que fiquei em um hostel, peguei carona, custeei minha passagem, andei de ônibus econômico, saboreando comida de rua”.
Foi assim que Romário entendeu que viajar não era um sonho impossível, bastava coragem. “Descobri que poderia fazer mais, avançar no inglês e no espanhol, fazer algo que me motivasse. Depois da viagem eu não era mais a mesma pessoa. Foram 30 dias que me deixaram com uma depressão pós viagem, o que me levou a pesquisar outros destinos”.
Sem dinheiro no bolso, o jeito foi encontrar uma solução para viajar e sobreviver com pouco. “Foi então que descobri essa plataforma de troca, que é a maneira como viajo hoje”.
Romário partiu há 1 ano e 5 meses. Três dias antes de dizer adeus a Mato Grosso do Sul, disse à mãe que iria trabalhar em São Paulo. “Falei que ia para uma pousada, que ia espairecer, mas a verdade é que eu já tinha fechado um trabalho voluntário”.
O primeiro destino foi Ilha Bela, litoral de São Paulo. Depois pegou a estrada rumo aos países da América do Sul levando na mochila as roupas, um HD, uma câmera e um notebook que tornaram se instrumentos de trabalho. “Faço alguns trabalhos como nômade digital, envio por e-mail e as pessoas me mandam a grana. Mas aqui também consigo fazer trabalhas em hostel e lugares que eu possa ficar.
O primeiro passo foi vencer o medo, garante. “O medo só nos desmotiva, mas ele não é real. Dar um fora nele é criar uma armadura incrível e espetacular. Hoje, tudo que eu quero é motivar as pessoas”.
Durante a jornada o que não falta são histórias. “Brincar com outras pessoas, ouvir novas histórias, saber os costumes, conhecer a cultura, coisas que no dia a dia a gente não tem tempo. Mas durante a viagem tudo isso acontece”.
Romário abriu o coração de um jeito capaz de enxergar beleza nas coisas mais simples da vida, por exemplo, as influências da gastronomia no México. “Eu nem tinha vontade de cozinhar, só queria pedir pizza e lanches. Mas aqui no México há uma formosura de tudo que é produzido por eles, os temperos, uma bandeira em cada lugar e o patriotismo me fez até querer cozinhar. Hoje eu faço isso”.
Experiências incríveis também completam a felicidade de Romário. “Quando eu estive Bariloche, as temperaturas chegaram a – 25°C, eu não podia sair do hostel porque não tinha sapato apropriado, mas nevava, foi uma coisa que nunca vivi na minha vida. Dias depois cheguei no México, um calor com altas temperaturas, até passei mal, mas foi uma felicidade que não cabia no peito”.
Apesar dos perrengues, Romário diz que tem aprendido. “A gente que deve mandar na grana e não a grana controlar a gente. A maioria – a grande maioria – das coisas que o dinheiro compra não vale muito. O que vale é o seu tempo de vida gasto pra ganhar o dinheiro. Só que a vida não se compra, a vida se gasta e é lamentável desperdiçar a vida pra perder a liberdade”, ensina.
A lição que fica é que mudar é sempre o melhor lugar. “Então sigo dormindo terra firme e acordando vento leve, olhando com esperteza para as possibilidades sopradas sutilmente pela vida, me agarrando à perguntas que norteiam, abrindo o peito para que toda imensidão da plenitude entre e se acomode sem pressa de sair”, completa.
(Por Thailla Torres, do campograndenews)