A demissão: Hermélio Silva escreve crônica sobre força para a superação

A demissão

Por Hermélio Silva

Um funcionário de uma empresa tinha 13 anos de serviços prestados, mas por ingerência foi mandado embora. Ele tinha 36 anos, era alcoólatra e não conseguia parar de beber, até então.
Não sabia fazer outra coisa, senão levantar pela manhã e ir trabalhar e depois encher a cara. Foram vários anos assim, quase que cotidianamente. Naquela empresa, participou de inúmeros cursos, palestras e reuniões de agregação de valores, atendimento, qualidade e motivação pessoal.
A rotina do trabalho criou nele uma forma de vida, que não via nada ao seu derredor. E, a demissão foi um caos em sua vida.
Não querendo entender o processo, continuou bancando o estilo de vida, com a esposa e três filhos. Não tinha renda fixa, não tinha grande patrimônio e o que tinha foi vendendo para se manter.
Mudou de cidade, para mais perto de familiares, mas sentiu ainda mais a rejeição, até parece que transmitia alguma doença, porque todos fugiam dele, inclusive evitavam os telefonemas, talvez imaginando que iria pedir empréstimo.
A depressão tomou conta dele e pensou seriamente em fazer besteiras, pegar maus caminhos, entre outras coisas.
Já tinha vendido tudo que podia ser vendido, mas não entendia o porquê que os empresários não o contratavam. Até pensava que deveria ser pelo levantamento social, que é a famosa capivara, talvez por já estar quarentão… não entendia. E, definhava todos os dias.
Até conversou com a esposa para se separarem para diminuir o sofrimento, passando a morar com os pais, mas ela não aceitou.
Já tinha perdido a vergonha, mas também a esperança de encontrar um emprego que pudesse atuar, pois o labor manual não lhe era afeito. Não tinha costume e não aguentaria recomeçar como oreia seca.
Só Deus na causa! – Era o que mais ouvia, de forma indireta.
Sofreu muito. Não sabia o que fazer, nem para onde ir.
A fé já ia se esvaindo, quando num belo dia, aliás, numa noite de insônia ficou pensando o que poderia fazer para sustentar a família e se sustentar alimentando também a sua autoestima. E, ocorreu-lhe de pensar sobre o que ouviu um dia numa visita que fez a uma igreja, quando uma autoridade religiosa lhe falou: “Você tem um potencial enorme para passar experiências e sabedoria para as pessoas, pense nisso!”.
Ele imaginou a quantidade de cursos que havia feito pela empresa, e que só agora entendia que os mesmos só tinham a finalidade de aperfeiçoar a sua prestação de serviços naquela empresa. Aí, imaginou em transformar tudo aquilo numa palestra sobre “Atendimento, qualidade e motivação pessoal”, assunto que estava em voga na época, e que as empresas da cidade onde morava estavam com demanda reprimida.
Montou a palestra e procurou a empresa de transportes coletivos da cidade, para fazer uma apresentação gratuita, o que foi aceita e com a aprovação do resultado positivo daquela empresa, foi contratado para ministrar mais outras duas palestras, agora com pagamento condizente pela mesma.
De posse de um ofício de apresentação, esse jovem senhor procurou outras empresas e deu tão certo, que passou cinco anos só ministrando palestras em sua cidade, retomando a sua vida profissional, pessoal e familiar que estava se desfazendo.
Vejam só, ele estava preparado interiormente para apresentar importantes palestras, mas não via isso porque esteve focado parte da sua vida num objetivo menor, claro, de manutenção biológica, de pequenas felicidades e passagens momentâneas de prazer.
Hoje, ele agradece imensamente aquele senhor, que viu nele uma grande oportunidade para se reerguer, descobrindo que a solução estava ao seu alcance, porque ao aquecer o amor ao próximo, trouxe esperança e fé, juntamente.
Daí, ele sempre cita: “1 Coríntios 13:13 – Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor”.
Hermélio Silva
25.08.2023.

(Foto: Wagner Montanari)

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