Em Cáceres voluntários transformam vidas por meio da filosofia do Judô
O judô é mais do que uma modalidade esportiva, é uma filosofia de vida que se baseia em três princípios fundamentais: condicionamento físico, espiritual e moral. Em Cáceres, o judô vem mudando a vida de muitas crianças e adultos por meio do projeto social desenvolvido na Academia Judokan, localizada no bairro Cavalhada. Ali qualquer pessoa, de qualquer idade e em qualquer condição física ou financeira pode conhecer o Judô e treinar. Os treinos acontecem sempre às segundas, quartas e sextas-feiras a partir das 18 horas.
O sensei responsável pela acadêmica é o profissional de Educação Física e judoca Elvis Sacramento Silva, de 33 anos, que há 25 pratica o Judô. Ele é voluntário, assim como os demais senseis que ministram as aulas, todas gratuitas para crianças a partir de três anos, até adultos. “Eu quero oferecer para outras crianças as mesmas oportunidades que tive com o judô”, afirma Elvis.
Ele conta que iniciou sua trajetória no Judô com o sensei Gilmar Gomes Gracioso, que ministrava aulas em Cáceres. “Eu comecei com o judô pago, no Clube Humaitá, depois de um tempo, avisei a ele que teria que deixar de praticar o esporte porque minha família não tinha mais condições de pagar as aulas, mas ele me deu bolsa gratuita. Eu sempre fui bolsista do Judô e esse esporte moldou o meu caráter, a minha personalidade e é isso que a gente transmite aqui na Academia”, afirma.
O projeto social começou de uma parceria entre o então vereador Mario Massao Tanaka, que havia sido praticante de Judô na infância e entendia o quanto a modalidade pode ajudar a transformar vidas e com o sensei Gilmar Gracioso. Na época o dr. Tanaka ofereceu o espaço físico (terreno) e também uma estrutura para os treinos com a exigência de que ali não se cobrasse nada para as crianças, que fosse um projeto gratuito, e o sensei aceitou a proposta.
Elvis foi aluno de Gilmar, e quando o seu sensei foi embora de Cáceres em 2008, já formado em Educação Física na Unemat e graduado no Judô assumiu a responsabilidade de continuar com o trabalho social. “O judô é uma arte milenar, oficialmente foi criado a partir do jiu jitsu em 1822, mas a sua filosofia é garantir a formação da moral, do caráter um equilíbrio mental e emocional a partir do condicionamento físico. Aqui nós podemos mostrar para as crianças as oportunidades que elas têm na vida e de que não precisam de drogas ou qualquer outra coisa para viverem e serem felizes. Eu fico muito gratificado em ver esse trabalho florescendo, assim como eu sou fruto desse projeto, muitos aqui também já estão dando frutos”, afirma.
Sobre esses frutos, o sensei mostra o exemplo dos voluntários Alexandra da Silva, Isabela Aparecida Rocha e Carlos André da Silva, que são graduados respectivamente com as faixas Marrom e Roxa e que já assumem a tarefa de dar aulas e ir tomando a frente das atividades. “Estamos criando a cultura de um ajudar ao outro, que é uma das máximas do judô. Além disso, estamos preparando o caminho para que outros possam no futuro assumir o projeto e não deixar o Judô morrer em Cáceres.
Associação
Mães e pais são voluntários para manter o Judô em Cáceres
Desde que o sensei Elvis Sacramento assumiu algumas mudanças vem acontecendo para melhor, como a filiação à Associação de Judô de Mato Grosso e à Confederação Brasileira de Judô, além do reconhecimento de entidade de utilidade pública.
Em 2010 foi criada a Associação de Judô de Cáceres, onde os pais, mães e os próprios atletas são os associados. O objetivo da Associação é desenvolver atividades que possam fomentar e fortalecer a prática do esporte e garantir melhor atendimento aos alunos.
“Nosso objetivo aqui não é a formação de atletas, mas sim a formação do caráter, da cidadania de despertar nos nossos alunos a filosofia de vida do Judô, que inclui o espírito de cooperação, o respeito, a disciplina”, falou o sensei Elvis Sacramento, na primeira reunião de pais do ano de 2019 ocorrida no dia 18 deste mês, nas dependências da Academia Judokan.
Na oportunidade, ele explicou que a instituição não cobra qualquer mensalidade dos alunos, e que tudo ali funciona na base do voluntariado. “Quando precisamos de recursos para levar nossos atletas em algum campeonato, para garantir algum investimento ou melhoria, decidimos em reunião com os pais como e de que forma podemos fazer”, afirmou.
A entidade que já tem o reconhecimento estadual, agora busca pleitear o reconhecimento como o reconhecimento de utilidade pública federal. Com esses reconhecimentos a entidade consegue parcerias e doações de bens materiais apreendidos da Polícia Federal que são comercializados e a renda revertida para a Academia, ou materiais oriundos de multas aplicadas pela Justiça.
A lona que cobre o tatame foi doada pelo Rotary Clube, os novos tatames foram doados pela Justiça por meio de aplicação de multas, com os recursos das vendas de meias doadas pela Polícia Federal foram adquiridos novos materiais para a academia e alguns quimonos para alunos que ainda não tinham e nem podiam comprar. O parquinho infantil também é fruto dessas ações de parcerias”, explica o associado, pai de judoca e ainda praticante de Judô Fransergio Piovesan.
Todo recurso angariado e todo e qualquer investimento realizado pela Associação fica disponível para consulta dos pais e demais associados. No espaço físico, são os atletas e também os voluntários que realizam a limpeza e cuidam da manutenção. Uma das próximas metas da diretoria para o ano de 2019 é construir uma cozinha comunitária no local.
A Associação de Judô de Cáceres é também vinculada a Ação Social de Cáceres, como projeto social, com isso, o poder público sede o ônibus para levar os atletas para as competições e etapas estaduais em outras cidades. “Dessa forma temos que pagar somente o combustível e a diária do motorista, o que sai bem mais em conta do que termos que locar um ônibus” explica o sensei.
O presidente da Associação e judoca Carlos André Pedroso da Silva, destaca que quanto mais pais e interessados quiserem participar melhor, porque essa é uma ação voluntária e social, aberta mesmo para todos. “Em Mato Grosso, eu sou o único presidente de associação que também é praticante de judô”, afirma.
Envolvimento Familiar é fundamental para a prática do judô
Quanto se tem o incentivo em casa, é mais fácil conseguir o objetivo. Foi com esse espírito que o hoje sensei Carlos André Pedroso da Silva, 45 anos, graduado (roxa) começou a praticar o judô, aos 37 anos. “Eu comecei para servir de incentivo para o meu filho Vitor Pedroso que estava querendo desistir. Dai pensei que se ele me visse no tatame quisesse continuar. Deu certo, ele está na mesma graduação que eu e já começa ajudando como monitor nas aulas”, diz.
Para Carlinhos, como é chamado, o mais gratificante é receber o carinho dos alunos fora do espaço da academia. “Eu fico muito feliz quando uma criança chega na escola, ou em qualquer outro lugar e diz: sensei… e me dá um abraço, é muito bom”, afirma.
O pai de judoca, e também praticante da modalidade, Fransergio Piovesan diz que ele na verdade é café com leite na modalidade. O seu foco é mesmo acompanhar e incentivar os filhos. “O Vinicius, meu filho mais velho, com 18 anos, praticava o Judô no projeto, e atualmente minhas filhas Isabela de 18 anos, e Gabriela de 11 continuam praticando. “A Gabriela foi mais longe, já foi campeã estadual, foi selecionada para o Brasileiro sub 11”, diz com orgulho. “O projeto é muito legal, tem o envolvimento das crianças e dos pais nas ações que desenvolvemos juntos, são as crianças que chegam mais cedo e limpam os espaços, eles gostam de participar e ajudar”, afirma.
Flavio Kimita, ex-praticante do Judô, leva e acompanha os treinos do filho, Rafael, de 5 anos. “O Rafael fazia Judô na escola, e nós ficamos sabendo da academia com a sensei dele, que também dá aula aqui no projeto. Eu gosto muito do Judô, essa modalidade me ajudou na formação de base, tanto corporal como também de caráter. O Judô ensina o comprometimento, a disciplina, o respeito, e eu espero que o meu filho goste e tenha isso para a vida”, diz.
Arnaldo Alcantara, não é o pai de sangue de Igor, 8 anos, e Icaro, 6 anos, mas os meninos o chamam de pai. “Eu na verdade criei a mãe deles que era sobrinha da minha mulher, e agora estou ajudando a criar os meninos. Eles estão há pouco tempo no judô, mas acredito que seja importante e creio que a atividade vai ajudar a formar o caráter deles, por isso os trago para o projeto e os acompanho”, diz.
Curiosidades:
Em japonês, judô significa “caminho suave”, ou “estilo de vida suave”, o que indica sua filosofia de integrar o condicionamento físico, moral e mental.
“O judô tem nove graduações, até chegar a faixa preta, e tem ainda outras duas graduações, a coral e a vermelha, que são faixas de honra, entregues pela dedicação e tempo de pratica da modalidade”, explica o sensei Elvis.
Para trocar de faixa é preciso cerca de um ano de treino e muita dedicação, então para se chegar a faixa preta leva no mínimo uns 10 anos ou 15 anos de treinamento. As cores das faixas são: branca, azul, amarela, laranja, verde, roxa, marrom e preta. Quando o judoca atinge a faixa preta, ele pode ir subindo escalas de níveis, que são chamados de “dan”. A partir do 6º dan até o 8º dan ele passa a usar a faixa coral e branca, e nos dois últimos níveis de dan, o 9º e 10º a faixa é toda vermelha, por isso são as faixas de honra.
O criador do judô foi o japonês Jigoro Kano, que a partir do jiu-jitsu, sem que tivesse os golpes mais agressivos criou o judô em 1822. A luta usa o próprio corpo como alavanca para derrubar e imobilizar o adversário. Ele foi a primeira arte marcial a se tornar um esporte olímpico em 1964, nos jogos de Tóquio. No Brasil, o esporte foi trazido por Mitsuyo Maeda, o conde Koma.
(Cáceres Noticias)