Em Rondonóolis, casal ‘colhe’ milho à beira do asfalto da BR-163, no Mato Grosso

Os grãos de milho tilintam no vidro do carro, quicam e caem no acostamento. Por onde passam, os caminhões graneleiros, carregados com a safra recorde deste ano deixam um rastro de riqueza que, acumulada na beira da estrada, converte-se em desperdício.

De acordo com estudo da Esalq-Log13% das perdas na produção nacional de grãos é de produtos que ficam pelo caminho durante o transporte rodoviário. Trata-se da segunda principal causa de perdas logísticas do país, logo após o armazenamento — mais de 67% da safra se desperdiça em virtude das más condições de estocagem. Na BR-163, principal rota de escoamento da produção mato-grossense, o casal de aposentados Edilson Constantino Medeiros e Maria das Dores (foto) aproveita o que cai pelas frestas dos caminhões. Eles recolhem os grãos para garantir o alimento de cada dia para sua criação de suínos e galinhas em uma pequena propriedade de cinco hectares na região de Rondonópolis, no sul de Mato Grosso.

“Todo ano é isso aqui que você está vendo. Cai muito das carretas, e a gente aproveita para as criações. Pra mim e para ela, que não aguenta mais plantar, compensa ficar aqui até umas 10h, 11h”, relata o produtor, que chega cedo, antes das 8h, para evitar o sol forte.

Em poucas horas, mas com muito trabalho, ele enche a caçamba da velha caminhonete F100 com 12 sacas de milho, o suficiente para até duas semanas de alimentação da criação. Para separar a sujeira do grão, ele peneira o material e deixa de molho antes de, finalmente, servir aos animais.

Colheita diária no asfalto – Dia sim, dia não, a colheita no asfalto se repete. “Enquanto ela faz o almoço, eu vou peneirar”, conta o homem de 53 anos enquanto caminhões a mais de 80 quilômetros por hora derramam mais e mais grãos pela estrada.

Passa das 11 horas, e Maria das Dores, já cansada do sol, encerra a conversa com estranhos na beira da estrada. Desconfiada, decreta: é hora de ir para casa para o trabalho que, em tempos de safra, garante a alimentação dos animais e da família.

Ainda há sacas e mais sacas de milho pelo chão, mas ela se diz satisfeita com as três horas de colheita. “Tem dias em que a gente tira mais, em outros, menos, mas está bom”, afirma. “Todo mundo precisa, cada um precisa de um pouquinho, e Deus vai multiplicando”.

(Globo Rural)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *