Estudante da UFMT cria blog e dá dicas de beleza para negras

Larissa Thaiza, 21 anos, sentiu falta de conteúdo e decidiu criar o próprio

Dona de uma beleza de dar inveja, com fotos muito bem produzidas e tutoriais de cabelo e maquiagem para mulheres negras, uma estudante cuiabana, de 21 anos, está fazendo sucesso na internet.

Larissa Thaiza de Souza Santos, estudante de Publicidade na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), criou há um mês o blog “Cachos e Afros”, no qual aborda assuntos do mundo da moda com linguagem acessível.

A blogueira contou que a ideia surgiu de uma necessidade de conteúdo voltado especialmente para negras. Ela, então, passou a pesquisar sobre beleza sozinha e começou a publicar dicas em seus perfis no Facebook e Instagram.

“Percebi isso dentro do meu círculo. Eu vi que alguns assuntos eram recorrentes e várias pessoas tinham essas dúvidas ou que buscavam pesquisar aquilo. Eu vi que poderia atrair um número considerável de pessoas se interessando e vi que poderia trabalhar com aquilo”, explicou.

Em seus textos, Larissa tenta correlacionar assuntos de beleza com o “faça você mesmo”. Ela disse que quer incentivar a produção pessoal de cada leitor.

“Eu tento falar para que as pessoas vivam da maneira que elas conseguem, sem precisar de muito, sem precisar ficar se matando por aquilo”.

Nos tutoriais, a jovem dá dicas de maquiagem para diversos tons de pele negra. Segundo ela, esse tipo de conteúdo ainda é escasso, pois o que se encontra relacionado à beleza é o oposto da estética negra.

“É um trabalho”

Estudante de publicidade passou a estudar sobre moda e beleza sozinha

Conforme a estudante, a palavra “blogueira” está desgastada e não tem mais tanta credibilidade, uma vez que, segundo ela, as pessoas não seriam mais levadas a sério. No entanto, ela quer desmistificar essa ideia.

“Blogueira não é aquela pessoa oportunista, que vai querer te pedir coisas em troca de divulgação. Tem um trabalho de redação, fotografia, edição, tudo. Mas não tem outro jeito: se você tem um blog então você é uma blogueira”, afirmou.

Antes de fazer o “Cachos e Afros”, Larissa contou que precisou analisar muitos pontos, inclusive o mercado. Ela pesquisou diversas páginas procurando o que poderia fazer de diferente.

“A gente tem que estudar o mercado para qualquer coisa, até para abrir uma ong. Eu olhei aqui em Cuiabá e vi quem fazia algo parecido ou quem fazia na mesma linha e o que eu poderia fazer de diferente”, relatou.

Ela acredita que o sucesso da sua página depende, principalmente, do conteúdo e de como será recebido pelo público. Por ter apenas um mês de experiência com o blog, a jovem ainda não pôde analisar os resultados.

“Não adianta nada você fazer um bom conteúdo, tirar boas fotos se o público não se interessa por aquilo. É um risco. Vamos ver como Cuiabá vai receber esse conteúdo e vai absorver”.

Racismo

Para a blogueira, esse preconceito racial ainda precisa ser explorado até ser esgotado. As formas como isso se apresenta são inúmeras. Porém, segundo ela, o racismo impossibilita negras de verem sua relevância e isso molda a sua autoestima.

“Eu tento também trabalhar a parte de autoestima, que é importante para todo tipo de pessoa. Só que quando é uma pessoa negra falando de autoestima, é uma coisa muito bacana”, afirmou Larissa Thaiza.

A jovem também alertou que, no mundo da moda, o preconceito com pessoas negras se dá de forma mais sutil por meio dos estereótipos. Por ter feito alguns trabalhos nesse ramo, a estudante revelou que já deixou de ser selecionada por não corresponder a uma ideia que os agenciadores tinham de modelos negras.

“Às vezes eles querem fazer uma coisa invasiva, enquanto as modelos brancas são coisas mais delicadas. As modelos negras têm que ser algo mais selvagem, sexual, algo que remeta a uma coisa mais voltada para o animal do que para uma pessoa. O racismo se apresenta de uma maneira muito sutil e o principal resultado disso é a exclusão”, apontou.

De liso para cacheado

Aos 7 anos, Larissa alisou o cabelo pela primeira vez. Depois, nunca mais conseguiu se livrar das químicas. Apenas em 2015 passou a ver o seu cabelo com outros olhos.

Larissa passou a alisar o cabelo com apenas 7 anos

“Durante esse período, foi como se eu vivesse em moldes muito apertados. Eram coisas que eu vivia e achava comum, mas não eram. Ter o cabelo afro era tipo uma doença e eu tinha que fazer um tratamento. Assim como as pessoas tomam um remédio todo mês, eu tinha que ir no salão a cada três meses”.

Cansada da ditadura do cabelo liso, a estudante resolveu fazer a transição capilar após muito pesquisar na internet. No entanto, sentiu falta de pessoas com quem conversar sobre o processo. Isso a motivou ainda mais para criar o “Cachos e Afros”.

“Eu não tive esse apoio. Então não tinha alguém para me indicar um salão ou produtos que eu poderia usar. Eu quero usar meu blog para isso, para as pessoas poderem comprar aqui, encontrar aqui e que não precisem ir longe para conseguir”.

Larissa aponta que achar a cor ideal ou um batom que valorize a cor da mulher é um trabalho difícil, mas ela está disposta a ajudar por meio do blog.

Além disso, a estudante incentiva o espaço de mulheres negras na mídia a fim de promover a autoestima. Ela acredita que quanto mais ganhar o ambiente, mais pessoas se identificarão.

Ela sempre teve influência de moda pelo fato de sua mãe ser costureira. Larissa conta que as duas estavam sempre inventando uma peça nova e isso impressionava os amigos.

“A gente tinha alguma peça que não servia, aí remendava, comprava tecido e fazia uma barra. Isso era muito bacana”, relembrou.

Com isso, os colegas passaram a cobrar que Larissa os ensinasse. Ela, então, teve a ideia de disponibilizar esse conteúdo no stories do seu Instagram. Porém, sentiu a necessidade de ter um espaço onde as pessoas pudessem acessar o conteúdo a qualquer momento.

“As pessoas começaram a me cobrar: você poderia ter um espaço para a gente acessar sempre. Eu sentia falta de um espaço para deixar os tutoriais, conteúdos para sempre acessarem como uma contribuição mesmo. Com o blog, eu encontrei essa plataforma”, afirmou.

Cinco meses depois de iniciar a transição, a estudante resolveu cortar o cabelo acima dos ombros e se livrar de todo o peso.

“No dia em que eu cortei, fiquei tão aliviada que eu tinha me livrado daquele cabelo. Ele era pesado de tantas formas, não só o cabelo, mas o sentimento também. Aquilo me fez passar por tanta coisa, me sujeitar a tanta coisa”, revelou.

Ela ainda alerta que as mulheres precisam ter cuidado na transição para não entrar em outra ditadura. De acordo com Larissa, as mulheres passam a se preocupar em manter os cachos quando os cabelos delas podem não ser dessa forma, pois existem diversos tipos de cabelos e eles devem ser respeitados.

“Tem gente que fala: passa um creme nesse cabelo, esse cabelo está para cima. Mas não é bem assim. E aí você sai da ditadura do cabelo liso e entra na do cabelo cacheado, porque agora você vai gastar o tempo enrolando. Saia de um padrão, mas não entre em outro”.

(Por Bianca Fujimori, do midianews)

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