Falta de apoio à cultura faz com que escritor tome decisão radical no MT

Escrevendo e editando livros há 27 anos, Hermélio Silva diz que cansou de ficar passando o pires para publicar uma obra – Foto: Wagner Montanari.

O escritor Hermélio Silva, de Rondonópolis-MT, tomou uma decisão radical no final de semana passado. Com uma série de livros para serem publicados na forma impressa, ele decidiu que não vai mais produzir obras no papel. O motivo é a falta de apoio à cultura, tando do setor público mo da iniciativa privada.

Hermélio Silva elaborou um artigo no dia 14 de maio de 2021, onde desabafa e analisa o cenário cultural sem, contudo, deixar a causa, mas em outro formato.

A prostituta das respostas

“Penso seriamente em parar de escrever, não pela falta de assuntos, porque tenho 14 livros pré-prontos para publicação, faltando alguns enxertos e complementos, mas pelo que sentimos sobre a leitura na nossa cidade e estado e o desconhecimento geral aos escritores, que ainda conseguem publicar seus textos, mesmo que em tiragens ínfimas, porque não recebem reconhecimento para suas publicações.
Cansei de passar o pires, e olha que desde o primeiro livro em 1994, ainda continua do mesmo jeito, talvez com os mesmos mecenas de antão, e outros novos conquistados a duras penas. Corre, a boca pequena, que no Mato Grosso o livro deve ser gratuito, que as leis de incentivo as bancam, mero desrespeito ao autor, porque são pouquíssimos os projetos abarcados pela lei estadual, exceto agora nessa pandemia, pelos editais, quase que obrigatórios no município e no estado através da lei federal Aldir Blanc, ou seja, cumprimentam com chapéu dos outros.
Quando o Almada, presidente da Associação Poguba de Artesãos de Rondonópolis colocava uma placa feita à mão, na Praça Brasil, nos seus eventos, dizendo que não tinha nenhum apoio da prefeitura, isso no milênio passado, eu não entendia direito, no entanto dói saber que hoje continua da mesma forma. Alguém dizia naquela época, que éramos uma cidade de forasteiros, que nós viemos aqui só para ganhar dinheiro, acho que estava certo.
Tenho anotado uma relação de 17 escritores que tem seus trabalhos prontos para edição, mas não conseguem apoio. Alguns deles tem mais de dois livros prontos. Participei de três projetos apresentados ao município, a pedido da administração, em processos demorados e pedidos de inúmeros documentos tanto pela Secretaria de Cultura como pela Educação, mas que foram barrados pela procuradoria, que alegava ser o lançamento de edital o caminho correto para tal, mas esse edital parece coxa de freira, ninguém ver.
Os livros que lancei, na sua maioria foram em parcerias, alguns customizados para alcançar os propensos patrocinadores, mas tenho consciência que poucos foram lidos, servindo para emoldurar ou completar espaços de estantes.
Sei que os livros só são vendidos em poucas hipóteses, quando se tem um bom título, uma boa capa, alguém falou dele – alguém público, melhor ainda –, ou quando sai nas páginas de alguma plataforma específica. A chance de você escrever um bom livro e ele se tornar best-seller é pequena, se não tiver investimento alto para chegar às editoras, através de boas indicações.
Tenho contrato com a Editora Komedi, e já lancei bons livros por lá, e de lá chega, às vezes, alguns créditos na minha conta corrente. Lá está o meu melhor livro, um serial killer, que dá um filme, mas sei que um dia será reconhecido, também o livro que mais me dá royalties, sobre a cidade campineira.
Não sei quantificar quantas vezes ouvi a prostituta das respostas: Não! Entretanto, entrava num ouvido e saía no outro. E, passando por tantos turbilhões, mas reconhecendo os padrinhos que permitiram alcançar o livro de número 26: “Talk show, com Hermélio Silva”, que será lançado em junho de 2021, mesmo a contragosto me despeço do livro impresso.
Continuarei representando as editoras Umanos Editora e E. O. S. Editora, para a publicação de livros dos meus clientes, dos quais temos 11 em tramitação. Esperamos que eles obtenham sucesso no pleito, porque são bons livros, e, não seria consultor cultural se assim não fosse.
Não se vive da arte literária em Rondonópolis.
Hermélio Silva
14.5.21.”

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