Google homenageia a escritora negra brasileira Carolina Maria de Jesus

Mulher negra e escritora favelada, Carolina Maria de Jesus é a homenageada desta quinta-feira (14) no Doodle, do Google. Hoje, ela completaria 105 anos.
Grande revelação literária dos anos 60 no Brasil, com “Quarto de Despejo — Diário de uma Favelada“, Carolina nasceu em Minas Gerais e se mudou para a favela do Canindé, em São Paulo, em 1947, onde trabalhou por anos como catadora de papel e latinhas.
A escritora foi descoberta nos anos 50 pelo jornalista Audálio Dantas. Ele a conheceu durante a apuração de uma reportagem sobre o dia a dia da favela.
“Ela falava alto, dizia que ia botar o pessoal no livro. Aí quis saber qual era o livro. Então, ela me mostrou os cadernos dela no barraco. No meio, tinha esse diário, que me chamou atenção. Era de uma força muito grande e fazia uma reportagem sobre a favela que nenhum repórter poderia fazer”, disse o jornalista em entrevista ao jornal O Globo, de 2014.

Nele, Carolina registrou o cotidiano precário em uma favela de São Paulo, onde ela criava três filhos. O texto é considerado um dos marcos da escrita feminina no Brasil.

A repercussão da reportagem, pioneira em permitir que “não repórteres” escrevessem nos jornais, gerou críticas e interesses da sociedade. Alguns diziam que ela era “analfabeta”, outros valorizavam a história única e sensível retratada em seus textos.

A repercussão de sua história na sociedade brasileira colocou Carolina nos holofotes. Com os pedidos para que um livro fosse lançado, Audálio compilou os diários e publicou os conteúdos mais instigantes. Ele optou por não corrigir os erros gramaticais.
O livro, Quarto de Despejo, foi lançado em agosto de 1960. Os 10 mil exemplares da primeira edição foram vendidos numa semana, um recorde para a época.
A obra se transformou em um best seller, foi traduzida em 16 idiomas e vendida em mais de 40 países.
Publicações estrangeiras como “Time”, “Life”, “Paris Match” e “Le Monde” deram amplo destaque aos seus diários e a sua história. Sua escrita sobre a realidade da favela tocou por seu tom visceral e poético.
Carolina Maria de Jesus morreu em São Paulo, em 1977, vítima de insuficiência respiratória. Antes de falecer, ela publicou Asa de Alvenaria (1961); Pedaços de Fome (1963); Provérbios (1963); Diário de Bitita (1982); Meu Estranho Diário (1996); e Antologia Pessoal (1996).
(Fonte: Exame/Abril)