Lorival e Sueli perderam a visão, mas vontade de trabalhar prevaleceu e quem ganha são os clientes
Uma iniciativa para mostrar que somos todos iguais, apesar das diferenças: essa é a proposta da parceira entre o Ismac (Instituto Sul-Mato-Grossense para cegos Florivaldo Vargas) e a Universidade Uniderp, que incentiva empreendedores informais cegos e de baixa visão, em Campo Grande. Cosméticos, artesanatos, doces e comidas para todos os gostos, tudo isso feito pelos deficientes visuais.
Lorival da Silva Santos, 64 anos, ficou cego aos 8 anos de idade devido a uma cirurgia malsucedida. Ele faz parte do projeto Bocaiuva Aquidauana, em Mato Grosso do Sul, a fruta típica do Cerrado que tem sido utilizada além da culinária.
“Eu faço parte desse projeto desde 2005. Até 2007 foi feito apenas pesquisa para ver como ela seria recebida, depois eu fui capacitado para cortar a bocaiuva. Eu que faço todos os produtos, hoje nosso projeto conta com 20 coletadores e oito famílias dependem dessa fonte de renda, como forma de complementar no orçamento familiar”, ressalta Lorival.
Já com Sueli Maria Batista, 53 anos, foi diferente. Ela perdeu a visão aos 23 anos, no alto da sua juventude. O problema? Descolamento de retina. Ela conta que acreditava que ia passar o resto de sua vida da cama para cadeira, da cadeira para cama, mas quando conheceu o Ismac e teve um incentivo, viu que a vida poderia ir além.
“Não foi fácil, a vida é essa, a gente não pode mudar e nem ficar parado. Mente parada é armadilha para pensar o que não se deve, e até mesmo desenvolver uma depressão. Com o apoio de uma professora eu comecei a ler em braile (sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão) e terminei todo o módulo”, comenta orgulhosa.
Sueli trabalha com pães, no preparo, e faz tudo sozinha. Ela conta que já está acostumada com essa independência e que se outra pessoa tenta ajudar, acaba que atrapalha por isso ela prefere fazer sozinha.
“Eu sempre fui muito curiosa, desde pequena. E sempre gostei de cozinhar, é minha paixão. Nas aulas de braile eu ia direto aos livros de receita. Eu não gosto de ficar parada. Amo o que eu faço”, conta.
Ela conta que o preconceito existe e muito e que a oportunidade dada pelo Ismac e pela Universidade de expor os produtos ajuda a diminuir esse problema.
“Muita gente não acredita na gente, acha que não temos capacidade para fazer nada, e não é bem por aí. Temos braço, pernas, força de vontade, só não enxergamos. Eu só tenho a agradecer por essas oportunidades de expor os produtos, poder provar que estamos vivos e somos capazes”, finaliza.
Parceria
O Ismac (Instituto Sul Mato Grossense para cegos Florivaldo Vargas) tem o programa de incentivo aos trabalhadores informais cegos e de baixa visão, que atualmente tem 33 profissionais cadastrados. Para auxiliar esses empreendedores, o curso de Administração da Universidade Uniderp, acompanhou a primeira exposição e comercialização dos produtos no Fórum de Campo Grande nesta semana.
Os universitários vão prestar uma consultoria de Marketing para auxiliar e corrigir erros na forma de abordagem, nesse primeiro encontro foi coletadas as informações e a previsão é que um plano profissional seja montado para cada empreendedor.
(Por Nathalia Pelzl, do topmidianews)