Para garantir o leite da Manu, Davi faz entrega de app com aviso nas costas
É com a mochila nas costas e uma foto da Manu sentada e sorrindo ao lado de dois cachorros que Davi Borges Soares sai às ruas pilotando sua moto para entregar os lanches pedidos por aplicativos, em Campo Grande. Os dias não são nada fáceis, mas para ele é necessário ficar horas na mesma posição, pois só assim consegue renda para comprar leite e fraldas para a filha.
“Ela tem paralisia cerebral e precisa de fraldas especiais porque tem alergia. Está com 3 anos, não anda, não fala, mas sorri. Acredito que somos pais especiais, por termos sido abençoados com a Manu que hoje é tudo pra gente. É o nosso presente e o sorriso dela paga tudo”, diz Davi com os olhos cheios de lágrimas.
Aos 42 anos, ele conta que o último emprego foi como motorista de caminhão, mas teve de pedir demissão para poder levar a filha no tratamento. Isso porque a família mora na Vila Carvalho e tinha que se deslocar todos os dias até a Mata do Jacinto. “Ela fica no Cotolengo onde recebe os cuidados necessários. No começo, não tínhamos conseguido que um carro da prefeitura a levasse, por isso optei por deixar o trabalho para levá-la”, conta.
Na época, Davi pagava um carro financiado, contudo, após conseguir o transporte gratuito para a filha, optou por se desfazer do bem e comprar uma moto. Agora, há quase três anos ele não consegue emprego de carteira assinada e usa a motocicleta para fazer bicos de entregador por aplicativo.
Fiz várias entrevistas de emprego, fui em várias empresas, mas achar um trabalho de carteira assinada está complicado por conta da concorrência. Tenho curso de vigilante, bombeiro civil e costumava atuar na área da segurança, porém já trabalhei como motorista também”, diz o pai.
Sem opção, a saída foi se cadastrar nos aplicativos de entrega de lanches para poder garantir uma renda para a família. “Saio de casa todos os dias às 10h e volto por volta das 14h30 para almoçar e descansar. Depois retorno para as ruas e só volta às 23h em casa. É difícil porque no trânsito ninguém respeita”.
O estresse é diário, principalmente quando Davi é fechado pelas ruas por carros. “Tento tomar o máximo de cuidado porque lembro da Manu me esperando. Isso me dá ânimo, por isso sempre dou uma maneirada no acelerador, pois tudo depende de mim”.
Por ter paralisia cerebral, Manu recebe o benefício do LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social), porém, se o pai conseguir um emprego que pague mais de um salário mínimo a filha perde o direito de receber a quantia do governo. “É um direito dela, mas que se a gente receber um pouquinho a mais já cortam. Porém, ela precisa do valor por conta do tratamento”.
(Por Alana Portela, do Campograndenews)