Questões de gênero e diversidade no ambiente prisional tem ciclo de formação iniciado
“Decolonizar o olhar” é a proposta que abre a reflexão sobre gênero e diversidade que a Secretaria de Estado da Cidadania começou a levar aos servidores do Comando de Operações Penitenciárias da Agepen, que compõem a força de reação da Polícia Penal.
Na manhã desta quarta-feira (16), a Subsecretaria Políticas Públicas para Mulheres, pasta ligada à Cidadania, ministrou palestra sobre “Orientação de Gênero: Compreensão de questões de gênero e Diversidade no ambiente prisional”, na Escola Penitenciária, em Campo Grande.
O evento, realizado pela Agepen, é destinado aos servidores do Grupamento do COPE (Comando de Operações Penitenciárias) e propõe promover uma compreensão sensível sobre questões de gênero e diversidade dentro do sistema prisional.
Operacional do COPE, Suelen Gonçalves Marinho ressalta como é fundamental refletir acerca dos temas para avançar na prática.
“A gente tem debatido as questões do feminismo e dos presídios voltado a ter uma outra visão. É um assunto muito interessante, e que gera boas discussões entre nós e traz uma atualização de perspectiva”, comenta.
O curso tem trabalhado as diversas tendências dos movimentos feministas, e desvendando suas contribuições tanto para o passado quanto para o presente.
Para a ministrante da formação, subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Manuela Nicodemos Bailosa, a história tradicional criou o mito do sexo frágil, da impotência feminina e do sujeito “mulher universal”, colocando-as na prateleira da subordinação e dependência, o que na prática significa uma invisibilidade das diferentes experiências entre as mulheres e dos múltiplos sujeitos sociais que caracterizam todas elas.
“Sugerimos, aos participantes da aula, um processo chamado de ‘Decolonizar o olhar’, uma vez que discutir gênero significa compreender os efeitos da colonização em todas as dimensões de nossas vidas, isto é, da tentativa de dominação do conhecimento e da construção dos seres sociais. A chamada colonização nos territórios inferiorizou muitos povos, impondo um padrão de sujeito universal, com apenas um gênero, uma sexualidade e tendo que ter comportamentos, valores e costumes pré-determinados em detrimento do diferente”, explica Manuela.
Com o tempo, essas diferenças de gênero, de classe, étnicas/raciais e de sexualidade foram se transformando em desigualdades estruturais.
“Então, indicar processos discriminatórios, trabalhar a interseccionalidade das três subestruturas sociais: gênero, classe social, raça/etnia, e revelar os marcadores sociais que definem o conjunto da sociedade enquanto sujeitos de direitos, esteve entre os principais assuntos tratados, assim como as violências que afetam a vida de meninas e mulheres no Brasil, como sexual, doméstica, familiar e o feminicídio”, completa a subsecretária.
A formação ainda debateu sobre os papeis historicamente atribuídos aos homens e às mulheres e à divisão sexual do trabalho. Pontos que geraram participação expressiva dos servidores com questionamentos pertinentes.
“Acreditamos que o principal objetivo do curso foi alcançado nesta primeira etapa da formação, o de despertar um olhar crítico nos profissionais que atuam em um contexto complexo da segurança pública e do sistema penal, no que se refere às relações de poder que constituem mulheres e homens sujeitos múltiplos, com experiências distintas e que são frutos da sociedade. Trabalhar para prevenir as violências de gênero contra as mulheres e enfrentar as raízes desse problema, é o que faz a Secretaria de Estado da Cidadania através da Subsecretaria Estadual de Políticas para as Mulheres e através da transversalidade da temática com as demais Subsecretarias da pasta”, pontua Manuela.
Para o operacional da COPE, Marcelo Barbosa Pinese, a reflexão se faz necessária. “Vendo as aulas eu vejo que é de suma importância a divulgação deste trabalho, por conta até do nosso ambiente, que é mais masculino. A inclusão é parte do nosso trabalho, porque não atuamos só na segurança, como também na parte disciplinar e de inclusão”, ressalta.
A formação seguirá sendo realizada para uma nova turma no próximo dia 30 de outubro, também na Escola Penitenciária.
(Por Paula Maciulevicius, da assessoria)