Repulsa por sentimento ou ação pode indicar trauma; saiba como ele se forma
Causados por experiências dolorosas ou assustadoras, os traumas podem gerar grande impacto na vida das pessoas. Em termos psicológicos, o sentimento é caracterizado por uma ferida psíquica, provocando uma marca negativa que pode impactar mente e corpo. Ele também pode ser definido pela dificuldade de a pessoa reagir em determinado momento contra algo perturbador.
Eles podem ser desencadeados por ações sofridas na infância, mas também na vida adulta. Traumas podem acontecer durante todas as fases da vida. Contudo, aqueles ocorridos no período da infância e da adolescência, por serem momentos críticos do desenvolvimento, podem causar danos severos à vida da pessoa”, destaca Michel Alexandre Fillus, doutor em psicologia clínica e professor do curso de psicologia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
Segundo Spencer Júnior, psicólogo e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, e preceptor da residência em psiquiatria do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, os traumas também podem se formar por uma composição de memórias e vão começar a modelar a personalidade da pessoa.
O tipo de trauma mais conhecido refere-se ao gerado por experiências agudas, como um assalto, um acidente, abuso sexual ou algum tipo de violência sofrida. Um único episódio assustador ou doloroso pode ser o responsável pela formação de um trauma.
O sentimento pode surgir também de experiências vividas repetidamente ao longo da vida como a convivência com um pai severo, humilhações constantes na escola ou relacionamentos abusivos.
Embora seja mais comum desenvolver um trauma a partir de uma situação individual, a sensação pode ser provocada por ações de terceiros. “O sentimento pode aparecer diante do sofrimento alheio e da constatação dos traumas dos outros”, diz Spencer Júnior, psicólogo e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco.
Os traumas também podem ser coletivos, provocando estresse e ansiedade generalizada diante de cenas de guerras, perda de um ente querido e até contextos duradouros como a atual pandemia de covid-19.
Há, ainda, traumas chamados de relacionais e precoces, que se formam no início da vida, quando ainda não há consciência de si mesmo, e que mesmo não sendo lembrados, sentimos seus efeitos.
Diante de ações do dia a dia, os traumas podem reaparecer em diversas situações. Determinadas cenas, cheiros e até cores podem ser gatilhos para ressuscitar lembranças que estão relacionadas a contextos de aflição e sentimentos ruins.
“Podemos revivê-lo por meio de recordações e/ou sonhos angustiantes, recorrentes e de difícil controle. Também com sofrimento psicológico, somatizações, reatividades comportamentais ou fisiológicas”, afirma Milena Fernandes Mata, neuropsicóloga da Vibe Saúde, pós-graduada pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).
Quando isso ocorre, o estado de excitação ou hipervigilância pode se apresentar de maneira constante e fazer com que a pessoa reviva determinada cena. Muitas vezes, o sentimento é de impotência.
O termo “trauma” tornou-se popular e, por vezes, as pessoas o utilizam para descrever experiências cotidianas difíceis. Não gostar, não querer ou ter vivências ruins com algo não é sinônimo de trauma, mas da capacidade humana de evitar aquilo que desagrada baseando-se em contextos passados.
“Muitas vezes emprestamos certos termos para conseguirmos expressar algo necessário. Porém, mais do que uma nomeação apenas, é preciso falarmos sobre o incômodo ou mobilização para que o outro (e até nós mesmos) entenda o que nos afeta, como nos afeta e a melhor maneira de lidar com aquilo”, diz Mata.
Vale lembrar que mesmo as situações irrelevantes para a maioria podem ter um potencial traumático. Não podemos mensurar o impacto da experiência de antemão: um assalto pode não ser tão impactante para uma pessoa quanto uma situação desagradável em uma festa para outra, por exemplo.
Ter memórias ruins é comum, porém, dependendo do quanto elas nos afetam, sabotam nossas escolhas, nos expõem a situações similares e repetitivas, podem indicar um trauma. Além disso, como já dito, nem sempre temos lembranças do que nos aconteceu e isso não significa que não fomos traumatizados.
Mesmo diante dos traumas mais difíceis, é possível tratar a condição com psicoterapia. Com um acompanhamento de um profissional especializado, o indivíduo pode melhorar diversas reações.
A pessoa não necessariamente irá esquecer os fatos que ocorreram, mas pode seguir com uma rotina sem os efeitos dolorosos e paralisantes do trauma, fazendo escolhas livres, retomando projetos e tendo uma melhor qualidade de vida.
Em alguns casos, quando o trauma incapacita o paciente de seguir com as atividades normais do dia a dia, o tratamento pode ser feito com o uso de remédios, receitados por um psiquiatra.
(Fonte: Uol)