Promotor denuncia padre por ‘missa política’ em Dourados

Missas de domingo à noite lotam a Catedral de Dourados

O Promotor de Justiça João Linhares Junior (foto em destaque), do Ministério Público de Mato Grosso do Sul em Dourados, ingressou na segunda-feira (23) com uma representação junto ao bispo diocesano Dom Henrique Aparecido de Lima, depois que testemunhou, ao participar da missa de domingo (22) à noite na Catedral, a conduta do sacerdote que conduziu o tradicional e bastante frequentado rito religioso dos finais de semana na cidade.

De acordo com a interpelação, encaminhada via WhatsApp à autoridade católica da Diocese, Linhares disse que o padre “politizou ostensiva e desnecessariamente o ato religioso, tecendo comentários absolutamente irrelevantes, impertinentes e alguns dos quais inverídicos, adotando, por conseguinte, conduta incompatível com as normas da Santa Igreja Católica e malferindo o pundonor e o decoro que deveria observar”.

João Linhares pediu que o bispo adote providências, à luz do Código Canônico, determinando que, não só o sacerdote da celebração de domingo à noite, mas, “todos os outros clérigos se abstenham de tecer comentários que se fundem ostensivamente em inverdades, com conteúdo político-partidário, e que deslegitimem a democracia brasileira”.

“Não importa o colorido ou o perfil político que se tenha, penso que durante a missa, um ato sagrado para os católicos, não se deve abordar assunto político-partidário que gere desarmonia ou sentimentos negativos. Os cristãos católicos vão à missa para orar, elevar o espírito, agradecer, louvar a Deus e buscar paz, o amor. Alguns assuntos, absolutamente estranhos e desagregadores, não me parecem ser objeto do ato religioso e muito menos construtivo para os fiéis”, confirmou o promotor ao se manifestar sobre o assunto com o Douranews.

Linhares disse ainda que não entende o motivo de se abordar política partidária dentro da Igreja, e de fomentar, “mormente neste momento tão polarizado, ainda mais cizânia entre os cidadãos, questionar a confiabilidade, a lisura e a transparência das eleições, o papel do sistema de Justiça, mormente do Supremo Tribunal Federal, e sugerir apoio àquilo que ele denominou de “movimento democrático e pacífico” – que seriam na verdade os atos golpistas em frente às unidades militares do Brasil, que configuram, em tese, crimes previstos no artigo 286, parágrafo único, e ainda no artigo 359-L e artigo 359-M, todos do Código Penal”, sustentou o promotor de Justiça junto ao bispo diocesano.

Na interpelação ao chefe da Igreja Católica regional, o promotor de Justiça observou que, “a certa altura da pregação de domingo passado, o padre externou que uma catequista da cidade estava presa, ‘arbitrária e injustamente’, em Brasília, por ordem do STF, sendo que ela ‘nada teria feito’, desacreditando a Justiça e o devido processo legal apuratório e dando azo ao movimento delituoso que vem sendo combatido no país por suas instituições democráticas”.

O celebrante da missa ainda considerou que “o demônio acha que venceu, mas Jesus é maior do que ele”, acenando, “o que se infere da preleção do aludido sacerdote, que o governo eleito seria ‘o demônio’, e ainda, falou sobre furto e roubo e vinculou isso, sempre de modo sorrateiro, ao governo eleito”, relatou João Linhares ao bispo.

Providências – Ao concluir no pedido de providências exigido de Dom Henrique, a autoridade do Ministério Público lembrou que foi levado a presenciar “uma sucessão de bazófias lorpas [no sentido de presunção infundada, grosseira] e de mensagens que em nada elevam o espírito dos fiéis ou que gerem harmonia e confiança na democracia e na justiça”.

Ao final da tarde desta quinta-feira (26), João Linhares disse que o bispo “prometeu analisar o caso e que inclusive já conversou com o sacerdote que celebrou a missa”. A Igreja ainda não se manifestou publicamente. (Por Clóvis de Oliveira, do Douranews)

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